Diante das mazelas da desigual geração de renda e sua perversa distribuição no mundo, principalmente em países cujas economias se encontram em fase de desenvolvimento, as organizações que em tese têm seus objetivos pautados na defesa da equidade social, deixam uma grande lacuna nesse quesito. Dito isto, diante dos debates acerca da reestruturação do papel das instituições que governam o mundo, há um tema que se destaca, o qual abarca a forma da globalização atual e suas implicações desfavoráveis, e sendo assim, surge o questionamento: a globalização está realmente trazendo benefícios para os países mais pobres?

Discutir a globalização é uma abordagem relevante em razão da acumulação de capital que a economia mundial alcançou nos últimos anos, além disso, pelas distorções na distribuição de renda ocorridas principalmente nos países em que há grandes disparidades regionais.

A leitura que se faz da economia mundial, nos últimos tempos, com a liberalização dos mercados, por exemplo, é que alguns países aumentaram sua riqueza, enquanto outros continuaram ou aumentaram seu nível de pobreza.

A globalização como o fluxo de bens e serviços, capitais e mão-de-obra, tem o poder de elevar os indicadores econômicos dos países, pelo fato de facilitar as trocas internacionais. No entanto, a maneira como essa integração é feita coloca os países, cujas empresas são menos competitivas, em condições difíceis. O intenso fluxo de capitais, nos primeiros anos da década de 1990 demonstrou de modo superficial ganhos para todas as economias envolvidas no processo, com expectativas de prosperidade sem precedentes. Mas, com o passar do tempo, a liberalização dos mercados tornou-se paradoxal, no sentido de que muitos se posicionavam contra, pelo fato de que cada país utilizava de “vantagens comparativas” para manter-se competitivo no mercado mundial, quer seja na agricultura ou na indústria, com fortes impactos negativos no mercado de trabalho, na esfera cultural e social.

De acordo com as estatísticas e relatórios, reconhece-se que a globalização trouxe fracassos para muitas economias, e que se faz necessário a sua reformulação para se fazer cumprir as suas premissas. Para tal feito, é preciso que haja uma ruptura do modelo atual de globalização, e nesses termos, destacam-se questões relevantes que se colocam em pauta na atualidade, tais como, pobreza, financiamento internacional e dívida externa, anseios por um comércio mais justo, proteção do meio ambiente e um sistema de governança global defeituoso. Com relação ao meio ambiente, dado os padrões de consumo tão distorcidos de alguns países desenvolvidos, é preciso alinhar crescimento e utilização de recursos naturais de modo racional, visto que o aquecimento global é um desafio que se coloca diante da globalização.

Há um consenso de que o sistema de governança global é defeituoso, visto que as decisões de âmbito global são tomadas de maneira unilateral. Com isso, os países em desenvolvimento não possuem representatividade alguma, o que demonstra a ausência de pluralidade de opiniões e discussões na busca da melhor decisão sobre o futuro da economia mundial. Dito isto, os organismos internacionais que foram criados com o objetivo de ajuda mútua diante da interdependência global, não exerceram seu papel na busca de solucionar problemas para garantir a estabilidade mundial.

Segundo Joseph E. Stiglitz (2007), relatórios apontam que em todo o mundo, com exceção da Ásia Meridional, dos Estados Unidos e da União Européia (UE), entre 1990 e 2002, as taxas de desemprego aumentaram. Em 2004, foi divulgado um relatório produzido por uma comissão integrada por Stiglitz, em que o desemprego global havia alcançado um novo recorde de 185,9 milhões de pessoas, além disso, a comissão também concluiu que 59% da população mundial morava em países com desigualdade crescente, com apenas 5% em países com desigualdade em declínio. Na África, aumentou a população que vive na miséria, em 1981 era de 41,6%, passando para 46,9% em 2001. Levando em consideração o aumento da população, isso revela que o número de pessoas vivendo na extrema pobreza saltou de 164 milhões para 316 milhões.

Com base nesses estudos realizados, a conclusão que se tem é que o modelo de globalização que aí está gera muito mais distorções do que equaciona problemas de ordem econômica, política e social, ou seja, a riqueza gerada está muito concentrada, sabe-se que a concentração de renda tem efeitos perversos no processo de desenvolvimento econômico. Portanto, é preciso mudar o direcionamento do atual modelo de globalização, do fluxo de bens e serviços, do contexto dos mercados, e tal mudança só é possível se pensarmos a economia como meio de troca onde todos podem e devem ganhar. É possível um mundo de comércio mais justo, de equidade social, um mundo em que a própria vida e o meio ambiente sejam colocados acima de qualquer interesse econômico ou político, porque a problemática está em como a globalização foi administrada.

*Danillo Teles de Britto Bispo é economista pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.

Referência:

STIGLITZ, Joseph E. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia da Letras, 2007.

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