Aumentar os juros não é a única maneira de conter a inflação
“Acontece que muitas vezes o problema da inflação é estrutural; ele está no fornecedor e não no consumidor.“ Daniel Schnaider, consultor de negócios (foto)

O aumento da taxa Selic é a ferramenta mais conhecida e utilizada pelo governo para conter a inflação. A estratégia apresenta, de fato, muitas vantagens, mas ela não é a única ferramenta de combate ao aumento dos preços, nem deveria ser a única medida adotada pelo Banco Central. É preciso lembrar que elevar os juros ajuda a conter o crescimento inflacionário, mas tem um efeito colateral: o custo das dívidas também aumenta e quem sofre são as pessoas mais humildes que estão em débito.

Um dos fatores que mais influencia a inflação é relativo à relação entre quem procura (demanda) e aqueles que fornecem os produtos e serviços. Se há muita demanda, os fornecedores percebem e aumentam os preços; por outro lado, se há pouca procura, o preço diminui para aumentar o interesse pelo produto.

É importante entender, no entanto, que, no tocante aos juros, o relacionamento do Banco Central é com outros bancos. Não é da mesma forma que acontece com empresas e pessoas físicas. Se os juros aumentam ou diminuem, o banco pode fazer a opção de repassar ou não os índices para os clientes. Os juros representam, na verdade, o preço do dinheiro, ou seja, uma compensação paga por quem quer manter o dinheiro para si. Com as altas taxas, os bancos incentivam os clientes a manterem o dinheiro na conta, em vez de gastá-lo ou aplicá-lo em outros investimentos. Então, se há juros mais baixos, há menos incentivos para deixar o dinheiro no banco, tornando-se mais interessante utilizá-lo em outro lugar. Com maior circulação de dinheiro, há uma demanda maior de produtos no mercado e, como vimos, os fornecedores aumentam os preços como resposta. A estratégia adotada pelo governo então é manter os juros altos, para que as pessoas deixem de gastar, retraindo a demanda e contendo a inflação.

Acontece que muitas vezes o problema da inflação é estrutural; ele está no fornecedor e não no consumidor. Diversos setores no Brasil são comandados por um grupo pequeno de empresas que fornecem determinados serviços. Transportes, telecomunicações, bancos, combustíveis e energia são só exemplos de algumas áreas em que os fornecedores têm muito poder de barganha e aumentam com facilidade os preços, contribuindo para as altas taxas inflacionárias. Essas empresas, quando se deparam com um concorrente que aumentou os preços, em vez de oferecer um preço mais atrativo e assim fazer frente à concorrência, agem de maneira contrária, aumentando também o preço, pois sabem que o consumidor não terá outras opções e se verá forçado a comprar o produto com o preço inflacionado. Trata-se de um modelo de sincronia de preços em que, mesmo pressionando o consumidor com altas taxas de juros, não vai fazer com que ele gaste menos.

A solução está em facilitar a regulamentação e atrair investimento de fora e de dentro para que se tenha mais fornecedores para esses serviços. É possível fazer os preços caírem pela concorrência e eficiência do mercado, sem usar a taxa de juros. Afinal, juros altos não apenas reprimem a inflação; eles também afastam o investimento para o mercado de capitais. Entre a opção de executar um projeto para a construção de uma usina hidrelétrica, com todos os riscos inerentes (regulamentação, autorizações, burocracia, fenômenos naturais) e a aplicação desse dinheiro em uma instituição financeira, recebendo juros por isso, com todas as garantias, a segunda opção é muito mais atrativa. Mas se o governo tomasse atitudes para facilitar a concorrência em diferentes mercados, faria com que as tarifas e os produtos se diversificassem, tornando o mercado mais competitivo. Então, conseguiríamos crescimento da economia, com diminuição de preços, sem ter que elevar a taxa de juros.

*Daniel Schnaider é economista, consultor de negócios e sócio do SCAI Group.

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