A primeira e, talvez, a mais importante constatação que o economista moderno deve fazer é de que, hoje, infelizmente, a economia ignora o indivíduo e se preocupa, exclusivamente, com a acumulação de capital.
A socialização de bens e serviços, a luta por uma boa colocação no mercado de trabalho e uma justa e equilibrada distribuição da renda, são objetivos que tem passado longe das preocupações governamentais ficando apenas restrita aos “programas de governo” inseridos na democracia política. Esses objetivos ficam apenas no plano teórico e são muito bem explicitados, por sinal, apenas, e tão somente, em época de propaganda política televisiva, quando se “vende” um mundo de sonhos e uma “cartilha de ações” que apresenta inúmeras “soluções” para afastar da sociedade os mais intensos problemas sociais.

O economista moderno, conhecedor teórico dos problemas sociais, precisa ter em mente, no entanto, que um mundo melhor para todos somente será possível quando as gritantes disparidades entre o mundo dos ricos e o mundo dos pobres for diminuída substancialmente. Para isso, deve o economista moderno pensar, antes, no social, e fazer com que isso esteja sempre acima do econômico. É necessário, nesse pormenor, combinar reflexão com ação. Basicamente é preciso fazer aquilo que o frei Leonardo Boff diz com bastante propriedade: “idéias podemos até tê-las, mas o que realmente move o mundo são nossas ações”.

Se todos estiverem imbuídos desse pensamento, ficará mais fácil então cobrar por ações do governo nesse sentido. Todo governo, num certo momento, até mesmo por temer a vontade popular, fica sensível aos anseios do povo, principalmente quando os desejos populares vêem embasados em perspectivas humanísticas, igualitárias, democráticas, com senso de ética e solidariedade. Essa é a força do povo, capaz de promover ações em favor das mudanças. Historicamente, toda vez que o povo saiu às ruas, algo aconteceu.

Conquanto, um primeio passo nessa direção é fazer com que o economista moderno e outros cientistas sociais, se sintonizem no fato de que nem tudo se resume em commodities; portanto, nem tudo deve ser condicionado a mera questão do mercado. Por consequência, nem tudo deve se resumir na pré-condição de mercadoria pronta a ser vendida.

Essa visão mercantilista, fortemente reforçada pelos mecanismos capitalistas de mercado, e por políticas que tem destruído a proteção social, leva ao fato de que tudo está a venda, assim como preconizam os defensores do capitalismo que querem tudo vender e, para tanto, em tudo colocam seus preços.
Frei Betto, frade dominicano e escritor respeitado no cenário internacional, foi categórico em A Mosca Azul, afirmando que “o consumo consome o consumidor”. De fato, as leis do mercado, centradas na venda de tudo, devora o “muito” daqueles que “pouco” tem.

Longe dessa visão puramente mercantil, cabe ao economista moderno pensar primeiramente nos pressupostos que devem nortear uma sociedade que visa o equilíbrio como objetivo central. Para tanto, os ideais de justiça, liberdade e igualitarismo precisam vir à tona. Contra a exclusão e a desigualdade sócio-econômica o economista de hoje deve constantemente se posicionar. Igualdade não combina com exclusão, assim como liberdade não combina com injustiça.

O tipo de sociedade que o economista deve pensar tem que necessariamente passar pela cooperação, em lugar da competição. Esta última, até mesmo por ser quase sempre praticada de maneira desigual (concorrência desleal e imperfeita no jargão econômico), privilegiando os mais abastados, apresenta evidências, a todo instante, que serve apenas para dividir e segregar. Desse jeito, dividindo e separando os seres pela condição financeira ou posição social que ocupam, jamais se chegará a condição sonhada de termos um amanhã melhor para todos.

Somente somando forças, e não divindo, se poderá alcançar uma sociedade mais justa e menos desigual. É sabido que a força coletiva faz o progresso acontecer. Com o progresso, a chance dos que nada tem passa a ser considerável. A cooperação, nesse sentido, pode ser a luz que falta àqueles que hoje vivem completamente à margem dos benefícios que uma sociedade equilibrada e justa é capaz de oferecer.

É nesse sentido que o economista moderno deve pensar. As causas e consequências da pobreza em que vive 1/3 dos brasileiros deve ser ensinada pelas ciências econômicas como sendo a mais abjeta situação, comparável a ignomínia da escravidão que marcou esse país por séculos. Essa deve ser a primeira lição ensinada no primeiro dia de aula no primeiro ano do curso de graduação em Ciências Econômicas.
A pobreza, a fome, a miséria e todo e qualquer tipo de exclusão social devem ser os temas de maior interesse dos economistas modernos; principalmente em sociedades com elevados índices de desigualdades. É simplesmente inadimissível aceitar que no mundo de hoje haja gente passando fome em qualquer parte do planeta.

Tais temas, abarcados na definição ampla de exclusão social, devem, antes, ser encarados como temas concernentes aos Direitos Humanos; portanto, não apenas restrito a uma área específica do conhecimento, até porque a existência da fome, em especial, é uma questão de ética, e não apenas de “desequilíbrio” econômico.

Propor alternativas para erradicar esses males deve ser a tarefa a ser empreendida pelos profissionais da Economia que chegam a todo momento ao mercado de trabalho. Afinal, a Economia nasceu para isso; para dar uma resposta positiva aos problemas sociais que tanto aflingem o homem moderno.

Certamente, os problemas da fome e da pobreza que marcam a ferro e fogo a desigualdade social do Brasil, precisam ser pensados o tempo todo por aqueles que tem a rara oportunidade de dirigir a política econômica de um país. Até mesmo porque, por meio dessas políticas econômicas, abre-se grande chance de mudar a vida de milhões de pessoas. Mudar para melhor a vida de milhões de pessoas: eis o grande desafio que cabe ao economista moderno superar.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor universitário.
Mestre pela USP em Integração da América Latina e Especialista em Política Internacional. Autor do livro “Conversando sobre Economia” (ed. Alínea)

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