“…A globalização acompanhada de mercados livres, atualmente tão em voga, trouxe consigo uma dramática acentuação das desigualdades econômicas e sociais no interior das nações e entre elas.(1)” Assim observou Eric Hobsbawm em seu livro Globalização, Democracia e Terrorismo quando questionado sobre a pertinência de se discutir os efeitos da globalização neste início de século.

Parece estranho, neste início de 2009, trazer a tona a questão da globalização, porém na verdade ficará mais estranho ainda quando focarmos nas propostas de desenvolvimento aplicadas a cada ano entre as nações ricas e pobres. Em meio a crise que vivemos hoje, fica mais nítido ainda a acentuação e disparidades existente entre continentes, países e centros urbanos, que segundo Hobsbawm são as consequências do atual modelo utilizado.

Porém, para entendermos a estranheza e o contraste do que se é pregado e estampado diariamente em manchetes de jornais, precisamos retornar e desconstruir o conceito. E só assim buscarmos realmente pensar e elaborar propostas alinhadas com um verdadeiro desenvolvimento. Nos últimos dias, tanto no Fórum Social Mundial quanto em Davos, buscam-se diversas soluções para a questão acima abordada por Hobsbawm, porém ambos esquecem de tentar entender um pouco mais a raiz das propostas.

Longe de mim querer, com tão poucas palavras, descrever modelos econômicos e planos de desenvolvimento. Embora acredito ser realmente necessário seguir por este caminho. Quero apenas trazer a reflexão e discussão sobre o tema, conseguindo gerar uma consciência coletiva sobre o assunto já caminharemos um pouco mais em direção a igualdade, justiça e qualidade de vida que nossa sociedade tanto clama em qualquer parte do globo.

Enfim, Celso Furtado, no livro Os Ares do Mundo conduz o raciocínio de construção do conceito de desenvolvimento da seguinte forma: “…o estilo de vida criado pelo capitalismo industrial sempre será o privilégio de uma minoria. O custo, em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida, é de tal forma elevado que toda tentativa de generalizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma civilização, pondo em risco as possibilidades de sobrevivência da espécie humana. Temos assim a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico – a idéia de que os povos pobres poderão algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável…É nesse sentido que cabe afirmar que a idéia de desenvolvimento econômico é um simples mito.(2)” Ou seja, todas as consequências que temos visto e vivido nos últimos 10 meses, se levarmos em conta apenas o tempo do ápice da crise econômica, tem origem basicamente neste ímpeto da inserção de modelos econômicos em regiões que não suportam tais estruturas e o desgaste ambiental de outras regiões devido a enorme ganância exploratória.

Portanto, penso ser necessário e urgente avaliarmos nosso conceito de progresso e desenvolvimento, pois o que vemos é que o modelo seguido é insustentável. Se queremos realmente conduzir e gerar uma sociedade com qualidade de vida e sem desigualdades, precisamos avaliar as nossas propostas. E assim, usar as ferramentas da ciência e tecnologia, as quais neste século XXI se apresentam de forma abundante e tão próximas, como plataformas deste desenvolvimento.

Como Celso Furtado encerra seu raciocínio dizendo que graças a focalização errônea no conceito de desenvolvimento utilizado pelo mercado hoje, desviamos “ as atenções da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abre ao homem o avanço da ciência e da tecnologia (3)” e focalizamos apenas em como explorar, exportar e negociar de forma mais rápido e com menos custo. “Se irá poluir, desestabilizar o ciclo humano, ah isso e questão que poderá ser resolvida outro dia!”

João Baptista
www.concepcoeseconjunturas.blogspot.com

Referências:

(1) Globalização, Democracia e Terrorismo, Eric Hobsbawm, 2007, pág. 11.
(2) OS Ares do Mundo, Celso Furtado, 2ª Edição 1992, pág. 193-194.
(3) OS Ares do Mundo, Celso Furtado, 2ª Edição 1992, pág. 193-194.

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