É positivamente surpreendente a emergência desse milenar gigante adormecido, chamado China, como potência econômica mundial, considerado, hoje em dia, como a fábrica do mundo, em razão da avidez com que decidiu inserir-se no modo de produção moderno, inclusive na sua fase mais avançada: o capitalismo financeiro, que o transformou num dos principais credores dos Estados Unidos da América do Norte, a maior e mais poderosa economia do planeta.

Para quem visita a China, mesmo por pouco tempo, é comum sentir desvanecer-se a surpresa de sua capacidade realizadora, ao constatar, por exemplo, que, de fato, a Grande Muralha, com cerca de seis mil e quinhentos quilômetros de extensão, pode ser reconhecida como a maior obra de engenharia militar da História da Humanidade.

Por outro lado, ao compulsar escritos históricos sobre o enigmático povo, desvendam-se figuras legendárias como Marco Pólo e Gengis Khan, que lhe confere a primazia da busca pelo desconhecido, da sede de conquista do conhecimento do Mundo. Descobre-se, ainda, que a história da China está prenhe de experiências inéditas e admiráveis, que podem transmitir a toda Humanidade as formas e os segredos de suas vitórias sobre as dificuldades materiais e políticas.

É de bom alvitre lembrar que o ideograma chinês representativo da crise tem implícito no seu significado a sua inescapável superação, conferindo-lhe, portanto, caráter pedagógico e criativo. Assim, o entendimento da cultura chinesa é de que a crise apresenta-se como a interrupção momentânea do processo de desenvolvimento, que se pode interpretar, também, que o desenvolvimento é a interrupção momentânea de alguma situação de crise duradoura do capitalismo. Ou seja, a alternância de períodos de desenvolvimento e crise tem sido uma constante na história do homem, mesmo porque todo desenvolvimento que se processa em escala exponencial prenuncia um futuro explosivo, portanto catastroficamente crítico.

À crise de 1929, até então a mais catastrófica do capitalismo, sucedeu o período de maior desenvolvimento científico, tecnológico e inovador da economia mundial, com o estoque de conhecimento da humanidade dobrando a cada três ou quatro anos, portanto tendendo a um crescimento exponencial. Logo, era de esperar-se a superveniência de uma crise sem precedentes para economia mundial, embora não se pudesse prever, com nitidez, a sua ocorrência temporal e quantitativa como, aliás, ainda não se pode prever a duração e dimensão da crise atual.

Torna-se plausível, portanto, admitir-se que a China, com seu passado remoto de invenções revolucionárias, com sua tenaz capacidade de resistência às adversidades que se lhes apresentaram no transcorrer da História, possa com seu capitalismo herético e milagroso, contribuir para a superação desse modo de produção, com a criação de um sistema imune às crises catastróficas como parece afigurar-se esta que o mundo está experimentando no presente.

Passando a um aspecto concreto e mais objetivo da China que se visitou recentemente, por pouco mais de dez dias, cita-se a Feira de Cantão, na sua 104ª edição, que é o mais antigo e maior evento ferial multissetorial do mundo, com milhares de expositores, que se revezam em três fases, abrigados em dois gigantescos pavilhões. Seguramente, o evento receberá a visita de milhões de pessoas de todo o mundo. A feira se realiza na cidade Guangzhou, capital da província de Cantão, que possui uma população de mais de 10 milhões de habitantes, é uma amostra conspícua da exuberância da China que se moderniza com rapidez e esplendor sem precedentes formais na história contemporânea. O rio das Pérolas, com suas margens exibindo modernas e luminosas construções comprovam seu ineditismo e pujança incomparáveis.

No distrito de desenvolvimento de Cantão existem cerca de duas mil e quinhentas empresas, dentre as quais 100 das quinhentas maiores do mundo. Lá também se encontram 39 universidades e dezenas de cursos técnicos de nível superior.

Analisada macroeconomicamente, a China pode ser considerada uma economia de mercado socialista. Como foi dito anteriormente, é chamada a fábrica do mundo, exportadora de marcas de qualidade. Os padrões de vida ainda são modestos comparados com os países desenvolvidos, mas observam-se melhorias consideráveis. A reforma rural, em implantação, pretende dobrar, em alguns anos, a renda média do trabalhador rural, que atualmente é de pouco mais de R$ 100,00 (cem reais).

A crescente regulação exigida pela globalização, agora mais necessária ainda com a crise financeira internacional, parece haver encontrado fértil terreno no autoritarismo do regime político chinês, que se apresenta implacável e despótico. Como a China nunca conheceu a democracia nos moldes ocidentais, o regime chinês parece está experimentando certa hegemonia – no sentido weberiano – em razão do sucesso insofismável do avanço socioeconômico, uma vez que a generosa abertura econômica ao capital internacional tem possibilitado ao governo obter os ganhos necessários para propiciar maior bem-estar ao povo chinês.

Nilton Pedro da Silva

Doutor em economia e advogado, é professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe e ex-conselheiro do COFECON. Participou da Missão do Fórum Empresarial de Sergipe, que através da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, visitou a China e Dubai, entre os dias 12 e 26 de outubro de 2008.

Fonte: Cofecon

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