Representantes dos países membros discutiram as assimetrias econômicas, as lições da integração na Ásia e na Europa e o papel dos setores público e privado neste processo

“O Mercosul terá de lutar pela construção de um caminho próprio para sua integração produtiva”, disse o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Arcuri, após debates com representantes de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai no Seminário Internacional Integração Produtiva: Caminhos para o Mercosul, na última terça-feira. O grupo, formado por empresários, governantes e acadêmicos, acompanhou as apresentações de consultores internacionais sobre as experiências de integração produtiva na Ásia e na Europa, na busca por lições que possam servir ao Mercosul. O encontro foi realizado pela ABDI, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

De acordo com o especialista alemão Sebastian Dullien, professor da University of Applied Sciences (Berlim), os atores mais importantes da integração produtiva na União Européia vêm da iniciativa privada. “A Alemanha, economia mais forte do bloco, está especialmente integrada com os países do leste europeu, pela vantagem de custo que isso representa. Ou seja, a integração produtiva acontece, neste caso, mais pelo fenômeno do outsourcing das atividades produtivas do que por ações dos governos”, afirmou ele. Nobuaki Hamaguchi, professor da Kobe University (Japão), evidenciou a importância da estrutura logística na Ásia para a integração produtiva. “Temos uma infra-estrutura extremamente eficiente, deste o transporte terrestre até o sistema portuário. Isso é fundamental para as atividades baseadas nos acordos de livre comércio e para o desempenho das empresas multinacionais, que promovem um seqüenciamento de produção muito importante neste processo”.

Por outro lado, o especialista tailandês Kriengkrai Techakanont destacou a importância de políticas governamentais no processo de integração produtiva. “Levando em conta que a industrialização é um pré-requisito neste processo, a atuação do poder público é muito importante para desenvolver a indústria dos países envolvidos. Depois deste estágio, quando a integração estiver consolidada, o governo passa a intervir menos e apoiar mais”, complementa.

De acordo com Mariano Laplane, diretor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas, as diferenças entre a América Latina e a Ásia e Europa mostram a necessidade de um modelo específico para o Mercosul, aliando atuações públicas e privadas. “Exemplo disso é que, no papel de economias mais fortes em seus blocos, Brasil e Alemanha são muito diferentes. Na América do Sul, ainda temos que homogeneizar os marcos regulatórios, integrar estratégias nacionais para desenvolvimento, entre outras coisas”, declarou. João Bosco Machado, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também aponta para a necessidade de ajustes básicos. “Falta resolvermos várias questões aduaneiras importantíssimas e investir num sistema de transporte eficiente”.

Pequenas e Médias Empresas

Enquanto muitos especialistas destacam a importância das empresas multinacionais no processo de integração produtiva, o Mercosul se dedica também a diagnosticar a necessidade de integração das Pequenas e Médias Empresas (PMEs). “São as PMEs que podem adensar o tecido produtivo, já que as grandes empresas se internacionalizam sozinhas”, diz Renato Godinho, representante do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE).

“É preciso ter muita transparência nas regras e segurança no mercado comum para que as PMEs se integrem ao bloco”, indica Sebastian Dullien, mostrando que em 2003 cerca de 20% das PMEs do país já consideravam a possibilidade de investir fora da Alemanha. Mario Mugnaini Junior, diretor executivo de Mercados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), sugere que as empresas médias do Mercosul busquem sócios locais nos países do bloco. “Já as pequenas empresas têm que conhecer muito bem o mercado em que pretendem atuar fora do seu país e se capacitar. Precisam de conhecimento sobre a internacionalização, sobre as condições do mercado, além de facilitações para este processo”, diz ele.

De acordo com Reginaldo Arcuri, é preciso haver mais diálogos envolvendo o empresariado. “O governo tem o papel de criar um ambiente favorável para a integração produtiva, oferecendo estruturas de suporte para tecnologia, elaboração de normas comuns, formação de recursos humanos, entre outras. Mas quem fecha o negócio são sempre os empresários!”

Arcuri lembrou ainda que, em 2008, a integração produtiva do Mercosul foi enfatizada pelo Governo brasileiro como uma das iniciativas fundamentais da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada em maio. Com seu programa de integração para a América Latina focado no Mercosul, a PDP pretende aumentar a articulação das cadeias produtivas e elevar o comércio na região, buscando ampliar escala e produtividade industrial. Dentro deste objetivo, o Seminário Internacional Integração Produtiva: Caminhos para o Mercosul permitiu a identificação de pontos a serem trabalhados nas agendas dos órgãos governamentais dos países do bloco, órgãos relacionados e setor empresarial.

Fonte: ABDI

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