De outubro do ano passado a fevereiro deste ano, os bancos privados nacionais receberam R$ 100 bilhões do compulsório bancário para comprar carteiras de crédito dos bancos menores, mas em vez disso investiram o dinheiro liberado na compra de títulos públicos, a custo zero, com retorno garantido. Não cumpriram o objetivo da liberação e ficou por isso mesmo, na opinião do professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli.

“Ou as condições para a liberação do compulsório não foram claramente estabelecidas, ou o governo é leniente: faz a concessão e pede que os banqueiros o ajudem”. Para o economista, “fica parecendo que o governo concedeu aos banqueiros os recursos de que eles não estavam mais dispondo”, para que continuassem a agir precisamente dentro da mesma lógica de aplicar onde é absolutamente seguro, “a rentabilidade é excelente e a cláusula de recompra assegura liquidez incondicional”.

Números do Departamento Econômico do Banco Central mostram que de setembro de 2008 a março deste ano a concessão de crédito cresceu 18,3% nos bancos públicos, 3,5% nos bancos estrangeiros e apenas 1,5% nos bancos privados nacionais, apesar da liberação do compulsório bancário (parte dos depósitos populares retida pelo BC). Só Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Nossa Caixa compraram carteiras de crédito de bancos menores.

Embora considere as taxas de recolhimento compulsório no Brasil “exageradas, abusivas e desnecessárias”, Piscitelli aponta o “paradoxo” da operação na qual o governo devolveu dinheiro retido institucionalmente dos bancos para que essas mesmas instituições possam ganhar mais dinheiro, emprestando ao governo, via aquisição de títulos públicos. O pior, segundo adverte, é que “muitas vezes esses benefícios são concedidos por prazo ilimitado”.

Para ele, “um pouquinho mais de coerência não faria mal a ninguém”. Ele cita que havia (ou há) uma crise, escassez de recursos, custo elevado do dinheiro, um verdadeiro travamento da economia pela falta de fluxo financeiro para lastrear o fluxo real de riqueza. “Você afrouxa a política monetária e as instituições criadas e autorizadas a realizar esse trabalho de irrigação [do mercado financeiro] esterilizam os recursos para isso liberados. Qual é, afinal, o papel dos bancos?”

A tentativa de responder a esse questionamento vem do professor de marketing e cultura organizacional da Universidade Metodista de São Paulo, Armando Levy. Ele diz que o Brasil é, na realidade, “um país refém de bancos” que captam do grande público a taxas ridículas, pagas na poupança, nos fundos de investimento e em certificados de depósito bancário (CDBs) para emprestá-los ao governo, via títulos públicos.

Só nessa operação, sem precisar fazer praticamente nada, os bancos ganham boa parte de seus lucros, pois um exame acurado da “lucratividade” dos principais bancos brasileiros mostra que muitos deles têm nessas operações, ditas de tesouraria, mais de 80% de sua lucratividade. Que tipo de banco competitivo é esse? Talvez “banco parasitário” seria uma melhor qualificação, acrescenta.

Agência Brasil / Stênio Ribeiro

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