Desde o início desse mês estão valendo as novas regras para o uso dos cartões de crédito no Brasil. As normas foram elaboradas pelo Banco Central com o objetivo de estimular o uso racional do cartão e diminuir o endividamento das famílias brasileiras.

Além de determinar o valor mínimo da fatura a ser pago mensalmente pelos consumidores, as regras também limitam o número de tarifas cobradas pelas empresas. Apenas cinco taxas poderão ser cobradas de todos os cartões emitidos a partir do dia 1º de junho desse ano. Antes disso, de acordo com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, existiam cerca de 80 tarifas diferentes cobradas pelo uso do cartão de crédito. Uma cartilha elaborada pelo BC que compila e explica as mudanças está disponível em nosso canal no SlideShare.

Para avaliar o impacto dessas modificações, O Economista entrevistou o especialista em cartões de crédito, José Eduardo Manier. Manier tem longa experiência nas operações de cartões de várias empresas, como Losango e Finivest. Atualmente, ele é diretor de cartões da Lecca Financeira.

Porque o cartão de crédito é um dos maiores vilões do endividamento da população?

Não encaro o cartão como um vilão e sim como uma nova experiência de crédito, que como tal devemos observar as suas melhores práticas de uso. O cartão agrega algumas vantagens, como facilidade de pagamento, parcelamentos maiores, programas de recompensas e principalmente segurança.

O cartão hoje é um dos principais veículos de inclusão das classes C, D e E na oferta de produtos financeiros.

Podemos falar que no Brasil a experiência com cartão tem 30 anos, porém, somente nos últimos 15 anos o cenário macro econômico do país permitiu que negócios e parcerias com o varejo fossem feitas de modo a substituir o antigo crediário pela segurança do cartão.  Para assumir o risco dessa mudança, os emissores viram nas taxas e tarifas a grande fonte de receita desse produto.

Durante esses 15 anos os emissores realmente ganharam muito com esse tipo de negócio, porém, quando ele é mal administrado, a perda também pode ser muito grande.

Essa perda fez com que alguns players começassem a reparar que o grande segredo desse negócio é a permanência de uso pelo cliente e que para isso era necessário ensiná-lo a usar o produto.

Acho que o movimento natural é esse. Hoje em dia você já vê faturas auto explicativas, campanhas de uso consciente do crédito e a própria interferência do governo na tentativa de conter o uso irrestrito do crédito.

A conclusão que tiro é que se o consumidor não tiver disciplina o vilão pode ser qualquer meio de pagamento, seja cartão de crédito, carnê, cheques pré-datados, etc.

Quais medidas a população pode adotar para se prevenir desse endividamento?

Há 15 anos o cartão era utilizado pontualmente e tornou-se um produto concorrente ao crediário. Hoje em dia está substituindo o dinheiro para uso no dia a dia. Então, a minha dica é fazer uma programação de uso. Se você não tem dinheiro e não é usuário de cartão, você vai ao supermercado?

Se a ideia é substituir o dinheiro pelo dinheiro de plástico o princípio deve ser o mesmo. Só gaste aquilo que se programou para pagar.

Outra dica é não pagar o mínimo por mais de um mês consecutivo. Realmente pode virar uma bola de neve e a saída vai exigir certa disciplina nos gastos.

Qual é a avaliação das mudanças propostas pelo Banco Central em relação às novas regras para os cartões de crédito? Quais serão os principais impactos?

Acho que está em linha com o meu comentário sobre experiência de crédito. Enquanto o BC não focou na regulamentação e fiscalização do produto, os emissores aproveitaram a oportunidade para rever seus investimentos e riscos nas múltiplas tarifas e altas taxas.

Acho que a mudança vem em boa hora para simplificar e ajudar no uso consciente do crédito.

É claro que as tarifas e as taxas continuam sendo a grande fonte de receita do produto e por isso acho que ainda haverá uma queda de braço entre os emissores e o BC sobre valores máximos e mínimos permitidos, mas o fato de diminuírem as quantidades de tarifas é um sinal de que as coisas estão mudando. Agora o cliente passará a ter mais consciência do que está pagando.

Como o consumidor deverá reagir a essa mudanças?

Acho que como em qualquer mudança, devemos esperar um tempo de observação. Mas acredito que o cliente terá mais facilidade para compreender o que está comprando. É uma demanda antiga do consumidor que poderá comparar taxas e tarifas com maior facilidade agora.

A previsão do Banco Central é de que essas medidas estimulem a população a contrair menos dívidas e a usar o cartão de forma mais racional. Acredita que seja essa a tendência?

Tudo está convergindo para isso. Mas é preciso prestar atenção no crédito e não somente no cartão. O cenário econômico é positivo, mas exige cuidados para conter outros bichos de sete cabeças como a inflação. A forma como o BC está atuando elevando a taxa de juros básicos está deixando os empréstimos mais caros, porém, como o poder aquisitivo também está crescendo, existe uma tendência natural de um maior endividamento da população.

Acho que o BC está fazendo o papel dele de atuar em todas as frentes. O cartão é apenas mais um meio de concessão de crédito.

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