Enquanto a política externa brasileira roda em falso revivendo um terceiro-mundismo anacrônico, a China, pragmaticamente, come o Brasil.

A aparente boa notícia de que ela nos garantirá um sólido superávit comercial neste ano de crise revela mais aspectos negativos do que positivos de nossa política externa e de desenvolvimento.

Pois os chineses têm, sempre, uma estratégia. De longo prazo. Com muito dinheiro em caixa num mundo sem crédito nem demanda, saem às compras para garantir os insumos essenciais para manter seu veloz crescimento.

Aproveitando os preços de liquidação (mas já em alta) das commodities, devoram nosso minério de ferro para fabricar manufaturados e nossa soja para alimentar sua população bilionária.

Ou seja: séculos depois do empreendimento colonial, seguimos ainda exportando matérias primas para as potências além-mar para depois comprar seus produtos processados.

Como mostrou a afiada cobertura do correspondente da Folha em Pequim, Raul Juste Lores, a visita do presidente Lula à China nesta semana escancarou esse triste desequilíbrio na relação bilateral dos dois gigantes emergentes e em suas estratégias.

O Brasil, apesar das possibilidades imensas da relação bilateral, mantém representação diplomática ínfima na China, nossos ministros não visitam o país, não se acha diplomata brasileiro que domine a língua, negociamos de forma mole e somos engolidos pela dureza chinesa.

É por isso que as promessas pomposas de grandes investimentos chineses no Brasil feitas na passagem de Lula pelo país em 2004 nunca se concretizaram. A China investe mais em países como Nigéria, Sudão e Argélia do que no Brasil.

Especialistas, chineses e brasileiros, afirmam que o Brasil não sabe negociar com os chineses. Enquanto Pequim é fria e calculista como manda a diplomacia econômica eficiente, o Itamaraty parece letárgico, ideológico e emotivo, tendo deixado a recusa (política) chinesa em apoiar a postulação brasileira de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU contaminar as relações comerciais.

O problema parece pior porque essa ineficiência ao vender as oportunidades de investimento no Brasil já foi detectada em outros continentes importantes.

“O Brasil não faz publicidade de si mesmo, não se projeta tanto quanto deveria em termos comerciais. O Brasil ainda não se vê como a economia emergente e protagonista internacional no campo dos negócios do modo que poderia e deveria”, disse à Folha, em março, o ministro dos Negócios britânico, Peter Mandelson.

Atentai: os chineses querem muito mais comprar nossos produtos do que nós queremos vendê-los a eles pois vão transformar nossos minérios e alimentos em mercadorias de muito maior valor para revendê-las ao mundo todo, inclusive a nós brasileiros.

O Itamaraty (e quem mais estiver de fato traçando nossa política externa econômica) deveria pensar muito mais nisso do que em etéreas alianças Sul-Sul que pouco se traduzem em desenvolvimento.

Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, “A Árvore” (1986) e “Carô no Inferno” (1987). Escreve para a Folha Online.

E-mail: smalberg@uol.com.br

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