Juros altos: um coma induzido
“Se apenas a aplicação de juros altos combatesse a inflação, nós teríamos a menor inflação do mundo, pois temos a maior taxa de juros do mundo. Isso por si só demonstra a sua ineficácia como instrumento de combate à inflação.”

Além dos diversos males que afetam diuturnamente a economia, como a inflação, a especulação, a corrupção e a malversação dos recursos públicos por parte de autoridades governamentais, é indicado, para combater um desses males (a famigerada inflação), um remédio muito amargo e perigoso, que em dose errada pode induzir ao coma e até matar o paciente (a economia): os juros altos.

No Brasil já se tornou moda o combate à inflação por meio da aplicação de juros altos, o que tornou o país um campeão de juros altos do mundo.

Essa política de combate à inflação adotada pelo Banco Central do Brasil, longe de lograr êxito nos seus propósitos, não tem, ao longo do tempo, demonstrado eficiência neste sentido, pois apesar desta prática adotada, a inflação ainda dá sinal de estar bem viva entre nós. Se apenas a aplicação de juros altos combatesse a inflação, nós teríamos a menor inflação do mundo, pois temos a maior taxa de juros do mundo. Isso por si só demonstra a sua ineficácia como instrumento de combate à inflação. Nunca deu certo em lugar nenhum do mundo, por que daria só aqui no Brasil?

A política de juros altos numa economia instável é aplicada em certos momentos para controlar eventuais excessos de demanda ou explosão de consumo em determinados setores, o que pode colocar em risco o equilíbrio demanda/oferta, provocando preços especulativos e, consequentemente, inflação setorial. Mas quando tudo volta ao normal, os juros também voltam ao normal. No Brasil, como já se tornou rotina, tudo o que é provisório torna-se permanente (como os impostos criados temporariamente) e a política de juros altos não poderia ser diferente.

Como já afirmei anteriormente, juros altos numa economia de mercado são um instrumento ineficaz no combate à inflação, trazendo mais malefícios que benefícios à economia, por provocar um processo de realimentação da inflação através do aumento dos custos financeiros das empresas em geral, que são repassados para o preço do produto final, criando-se um ciclo vicioso.

Além desse fato existem  ainda outros aspectos negativos dos juros altos:

* Incentivo à entrada de dólares especulativos, provocando a valorização do real, o que tem prejudicado sobremaneira as nossas exportações, causando déficits na balança comercial;

* Aumento da dívida pública. Cada ponto percentual aumentado na taxa Selic  representa um gasto a mais, que serão pagos pelos contribuintes;

* Redução da atividade econômica, interrompendo o ritmo de crescimento econômico — o que é mais grave, pois precisamos crescer sempre para manter um nível adequado de emprego e renda para a população, proporcionando uma vida digna e gerando mais investimentos para o desenvolvimento econômico como um todo;

* Redução do nível de investimentos das empresas, pelo temor de um processo de desaceleração da economia, como já está começando a ocorrer após a retomada da elevação dos juros pelo BC.

Isso tudo vem comprovar o que estamos afirmando com relação aos efeitos maléficos dessa política de juros altos, praticados e efetivados como a única forma de combate à inflação que a diretoria do BC conhece. É lamentável. O povo brasileiro está pagando uma conta muito alta por conta dessa insensatez praticada por uma equipe que não mede as consequências de suas decisões e tem causado grandes perdas ao nosso patrimônio.

A equipe do BC age como aquele soldado que andava no passo errado e o comandante bradava: “Soldado, o batalhão todo está errado, só você está certo!” Já é hora dessa equipe cair na real, sair da sua arrogância e prepotência e ser mais humilde, ouvindo a voz dos agentes produtores dos bens que sustentam esta nação, ouvindo a voz do povo.

* Este artigo foi publicado originalmente no site do Cofecon.

** João de Alcântara Lopes é economista e ex-presidente do Corecon/GO.

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