O mercado brasileiro de capitais e os mercados de todo o mundo vão continuar a ser afetados negativamente pela crise econômica mundial, nos próximos dias e meses, avaliou, em entrevista à Agência Brasil, o gerente-geral do Instituto Nacional de Investidores (INI), Paulo Portilho. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a cair ontem (2) próximo de 10%.

Portilho disse que uma simples ida a uma loja de venda de aparelhos de telefonia celular já mostra que a crise chegou ao Brasil. Antes de o problema financeiro explodir nos Estados Unidos, os celulares eram vendidos no mercado nacional em dez vezes sem juros. “Agora, são dez vezes, mas com juros de 20% a 25% ao ano”. Isso significa, afirmou Portilho, que existe por trás disso tudo uma crise de falta de dinheiro para emprestar.

“Os bancos precisam ter confiança para emprestar uns para os outros e para nós. E, no mundo inteiro, isso simplesmente acabou e ficou muito caro”, assinalou Portilho. A percepção das pessoas em relação ao pacote de socorro do governo norte-americano para os bancos e financeiras daquele país, avaliou, é que “talvez o tempo e o tamanho dele não sejam suficientes para recuperar essa credibilidade do sistema bancário, porque as quedas são muito grandes”.

Ele salientou que as pessoas estão com receio de que a questão do crédito não seja recuperada. “Sem crédito, a economia pára completamente”. No mercado de bolsa de valores, a tendência é de baixa, até que se defina se o pacote será aprovado ou não. Após ter sido rejeitado pela Câmara de Representantes dos Estados Unidos na última segunda-feira (29), o pacote foi aprovado pelo Senado e deve voltar amanhã (3) a ser apreciado pela Câmara.

O gerente-geral do INI assegurou que se os negócios chegarem a ser paralisados nos mercados será uma freada muito brusca nas economias mundiais. “Por isso é que as bolsas ainda vão continuar assim, bastante oscilantes”. Para que os investidores, principalmente os de menor porte, atuem no mercado de ações, Portilho indicou que não existe outro caminho a não ser investir sempre e regularmente. “O maior pecado que uma pessoa comete em bolsa é colocar tudo de uma tacada só, em um único dia. É um perigo. Se alguém tivesse feito isso em maio, por exemplo, teria perdido 50% dos seus investimentos”.

Além de investir sempre e de forma regular, a recomendação do especialista é que o investidor reinvista todos os dividendos recebidos no período e só compre ações de empresas que apresentem crescimento. “Essa é a regrinha que as associações de investidores iguais à nossa, do mundo inteiro, recomendam a seus investidores. Quem fez isso nos últimos cinco, dez ou 15 anos tem, sem dúvida, um grande ‘portfólio’ hoje. Agora, quem tentou adivinhar a hora de entrar e de sair, o que fazer, eu não posso afirmar”.

Portilho destacou que apesar da redução de valor de algumas empresas, como Petrobras e Vale, o foco do investidor tem de ser o crescimento do lucro das companhias negociadas na bolsa. Explicou que, devido à crise internacional, todas as empresas sofrerão, em algum momento, problema de crédito. No caso da Petrobras, em particular, lembrou que o próprio governo estaria garantindo crédito, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para que a empresa dê seguimento a seus investimentos.

Advertiu que a oscilação das cotações dos papéis na Bovespa acontece “ao sabor” do mercado. “O que importa para o investidor é se o lucro da empresa está crescendo”. Os dados relativos ao primeiro semestre indicam bom crescimento de lucro para as empresas brasileiras de maneira geral. “Isso é que importa para ele (investidor). Porque, mesmo que o mercado passe por um horror agora de falta de liquidez, não tenha dinheiro para comprar, quando ele se recuperar – pode ser no espaço de um até cinco anos – se o investidor se posicionou em empresas que têm um lucro crescente, um dia isso vai se ajustar”.

Outra dica importante do especialista é que quanto mais barata a ação, melhor o retorno em termos de dividendo, desde que a companhia tenha lucro e esse lucro cresça. “É isso que o investidor tem que procurar”. A redução do valor da Petrobras e da Vale à metade, em decorrência da crise mundial, “pode ser, talvez, uma grande oportunidade de investimento, desde que o lucro delas tenha perspectiva de crescer”, reafirmou.

Agência Brasil / Alana Gandra

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