O Economista é insubstituível
“O economista calcula tudo e sua formação filosófica, ética, matemática, teórica e transdisciplinar, o coloca em situação privilegiada entre os outros profissionais”.

O economista precisa ser um estrangeiro olhando para o seu próprio país, cada vez que necessita analisar friamente a conjuntura nacional ou determinados fenômenos em um específico setor. O economista, portanto, deve ser um consultor pragmático de feições gélidas, apontando, às vezes, saídas impopulares. Talvez por isso, por uma questão de aparência e não de essência, seja o mais incompreendido dos profissionais e muitas vezes, seja apontado como “maldito” pela sociedade, por empresários e por muitos políticos. Para eles, o economista é um chato.

O economista já foi acusado de dar seis soluções distintas para um mesmo problema, sendo que cada uma levaria a seis efeitos diretos diferentes, e outros seis colaterais. Já foi acusado, também, por Thomas Carlyle, de ser o arauto de uma ciência sombria, pois está sempre envolvido em assuntos funestos, e é mesmo fácil ligar a sua figura a coisas negativas como crise, inflação, recessão, depressão, quebradeira etc. Inclusive, não seria insensato, hoje, se medir a qualidade de vida de um país pelo tanto de vezes que o nome de um economista é pronunciado nos jornais. Um tipo de índice que prognosticaria: quanto mais se entrevista economistas, pior está o país. Agourento, o economista é tido como uma figura sinistra.

O economista já foi julgado e condenado mil vezes por causa de algum plano malfadado ou pelo “simples” motivo de ter mandado confiscar algumas poupanças. Ele é apontado, não raramente, como defensor de políticas econômicas restritivas ou como protetor dos fortes e “opressores” capitalistas. Diz-se pelo mundo que o economista não pensa no social. Que não está aberto para negociação com os movimentos sociais. Que não liga para o meio-ambiente, onde sobrevivem felizes os micos-leões-dourados, as baleias-jubarte e os índios caiapós. Que o economista está sempre pessimista frente às novidades que ferem a sua ortodoxia. Que o economista é um desumano.

Aos cinquenta e oito anos de profissão, e duzentos e cinquenta de ciência, o economista ainda não aprendeu a ser benevolente frente a tanta ingratidão. Ainda bem. Deixada às moscas, a sociedade já teria sucumbido às mais intensas guerras e ao espírito irracional do “é meu!”. Sim, porque é o economista que mostra que, face à escassez de recursos, as escolhas são difíceis, que existem oportunidades e seus respectivos custos. É o economista que apresenta à sociedade, aos empresários e aos políticos a ideia mais racional de suas escolhas, que não se resume em suas preferências – que levaria à conflagração brutal –, mas também, e especialmente, em suas restrições orçamentárias. O economista, na verdade, é a virtude e a sociedade sem ele, como diria Nietzsche, seria “a calamidade”.

Pode-se dizer que o economista, como naquela música do Cazuza, vai sobrevivendo, sem um arranhão, da caridade de quem lhe detesta. Isso porque ele é obrigado a lembrar todos os dias ao seu empregador – seja governo ou empresa – que o mundo não flui em leite e mel. Sociólogos podem dizer “coitadinhos dos pobres”, juristas podem indagar “cadê o direito dos pobres” e historiadores podem exclamar “os pobres se dão mal na luta de classes, são oprimidos”. Mas o economista não, ele precisa formular mecanismos, dentro do sistema e da democracia, para que a distribuição de renda seja melhorada e para que haja maiores oportunidades de ascensão. O economista tem que medir o uso dos quatro elementos da natureza, equacionando-os ao uso do capital e da mão-de-obra, e ainda, por fim, tem que medir o impacto disso micro e macroeconomicamente. Ufa!

E dizem que o economista é desumano. Desumana é a inflação, o maior imposto que o pobre poderia pagar pelo seu alimento, pois disso não há contrapartida, somente corrosão do poder de compra do seu salário. É bom lembrar como, nos anos 1990 – depois de uma década perdida, envolta em crise fiscal, com dívida externa na hora da morte e super-ultra-mega-inflação –, uns economistas planejaram e ajudaram a implantar um bem-sucedido plano de estabilização que até hoje mantém as bases do sistema brasileiro. Ruim é escutar, hoje, o cancã cantar: “mas esses economistas só pensam em estabilidade?”. Pior é ver o economista, que poderia ficar indiferente à vozearia, responder: “não, meu filho, pensamos nos ganhos e nas perdas da sociedade!”. A profissão do economista não é a de ser mãe, mas, mesmo assim, ele padece no paraíso.

Sair da armadilha de uma inflação superindexada e, ao mesmo tempo, instituir um plano de estabilização monetária, é somente um dos exemplos clássicos da importância do economista para a sociedade. O economista calcula tudo e sua formação filosófica, ética, matemática, teórica e transdisciplinar, o coloca em situação privilegiada entre os outros profissionais, podendo flexibilizar-se entre a consultoria e auditoria de empresas e a tecnoburocracia do setor público, podendo também se especializar em projetos de viabilidade econômico-financeira e ministrar aulas e pesquisas nas faculdades. Além do quê, sua fertilidade de ideias ganha dimensões práticas muito mais sofisticadas e avançadas que a materialidade das teorias conservadoras dos administradores-robozinhos. Não preciso dizer, o economista é um provocador.

Por fim, o economista ainda tem tempo para escrever sobre suas experiências e seus sutis pensamentos, transmitindo informações importantes a outros economistas e outros interessados, quando poderia estar escrevendo seu testamento (já que tantos querem matá-lo). E, pelos bares e becos, afirmam ainda que ele é um pessimista. Que nada, o economista, como está sempre em busca de soluções para as incongruências do sistema, dos setores e das organizações, se mostra um otimista em relação ao futuro da sociedade e ao próprio futuro.  Ele sabe que é insubstituível como profissional e, está cada vez mais claro, como pensador desta área das ciências sociais. Na verdade, o economista não se acha, ele é.

* Este artigo foi originalmente publicado no site do Cofecon.

** Everaldo Leite é economista e consultor.

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