Recordo-me que, investidor bem iniciante, apostei algumas fichas nas blues chips – consideradas as menos arriscadas pela liquidez extraordinária. No início do fatídico ano de 2008 se falava apenas em uma tal crise que estaria por vir em decorrência da farra do crédito imobiliário americano que atingiria frontalmente os balanços de bancos em todo o mundo. Como excelentes precificadoras de boatos, as bolsas mundiais tiveram dias de fortes quedas seguidos de repiques espetaculares.

Tirei proveito dessa volatilidade que se intensificou bastante entre março e maio do mencionado ano. Meses atrás havia entrado em fundos lastreados na Petrobrás e na Vale do Rio Doce, mas era extremamente desagradável ter como retorno a rentabilidade média diária dos papéis dessas duas empresas. De investidor de fundos com resultados modestos passei a investidor com retorno superior a 10% em apenas dois meses. A confiança era tanta que não hesitei em desafiar o noticiário nebuloso dos Estados Unidos e marcar posições em outras empresas.

Decidi formar uma carteira bem diversificada composta de papéis de consumo interno – consideradas defensivas por analistas -, setor bancário petróleo e mineração. Afoito com os resultados e inexperiente nos movimentos das bolsas firmei posição acreditando em excelentes resultados no médio prazo. A tal crise sobre a qual se especulava desde janeiro parecia algo distante; devaneios daqueles que fazem os deslocamentos dos mercados acontecerem em busca de oportunidades de entradas ou saídas nas duas pontas.

Em setembro de 2008 uma notícia bombástica confirma a veracidade do problema: o banco Lehman Brothers, o quarto maior dos Estados Unidos, pede concordata após mal sucedidas negociações com o governo desse País para um possível socorro. Funcionários desolados deixando as dependências da imponente sede com seus pertences em caixas de papelão após uma catastrófica queda de 5% da Dow Jones Industrial Average marcaram o ‘setembro negro’. Nos meses seguintes, as bolsas mundiais proporcionariam um show de horrores regado a muita histeria, desespero e falta de estratégia.

Tenho para mim, depois que o pior parece ter passado e a crença na segunda perna do W se enfraquece, que sob o ponto de vista do investidor individual alguns aspectos foram determinantes para as fortes perdas que aconteceram até novembro de 2008: primeiro, o pânico estabelecido que proporcionou circuit breaks nos primeiros quinze minutos de pregões com volumes baixíssimos e gaps de abertura gigantescos; segundo aquela paralisia que atinge o iniciante quando a posição não tem êxito e corre pelas veias aquele desejo incontrolável de recuperá-la, o que o leva a reforçar a posição perdedora, acarretando em mais perdas.

Continuando, aquela crença quase inabalável do ‘um dia recupera’, que leva o investidor à letargia de esperar o fundo do poço para começar a vislumbrar em um período X de tempo uma recuperação de suas posições; e por fim, o desconhecimento das possibilidades que o mercado oferece na ponta vendedora, o que poderia ter proporcionado ganhos extraordinários que compensariam o prejuízo na outra ponta. Particularmente, cometi o erro de reforçar posições perdedoras, mas não hesitei em vendê-las para aguardar o fundo da crise e buscar no mercado a compensação das perdas. A compra dos papéis preferenciais da Petrobrás a 16,84 reais deu início à minha estratégia de cobrir as perdas operando diariamente.

Após um ano da bagunça total que se estabeleceu nos mercados, estou convicto que a atitude de vender posições, esperar o fundo do poço ou algo próximo dele para operar diariamente e recuperar os prejuízos decorrentes foi demasiadamente acertada. Com uma rentabilidade parcial de cerca de 70% no presente ano de 2009 e uma bagagem razoável de mercado obtida com as duras lições da crise alerto sobre a necessidade de respeitar o Senhor Mercado e suas incongruências, já que os imponderáveis sentimentos dos investidores estão acima de quaisquer análises técnicas, fundamentalistas ou de outros gêneros.

Colaborou: Artur Salles Lisboa de Oliveira

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