Aproveitando o imenso fascínio e temor que a atual crise internacional desperta, o presidente dos EUA, Barack Obama, tem usado a superexposição pessoal para tentar redesenhar a América com apoio popular.

Até a programa de auditório Obama já compareceu, além de ter sido generoso em entrevistas e pronunciamentos recentes.

Assim como o presidente Ronald Reagan (1981-1989) o fez em sua época, Obama pretende mudar a orientação geral em seu país e a agenda de longo prazo norte-americana.

Em seu tempo, Reagan marcou um divisor de águas na economia dos EUA. Desregulamentou e pisou fundo na liberdade ao mercado. Foi a partir de seu governo e além que os EUA viram os preços dos imóveis disparar e pessoas comuns virarem especuladores na Bolsa.
Pode ser apenas coincidência, mas como lembrou nesta semana a “Time”, entre o final dos anos 1980 e hoje, saltou de apenas dois (Nevada e Nova Jersey) para 12 o número de Estados nos EUA que aprovaram a abertura de cassinos. No total, 48 têm hoje algum tipo de jogo ou loterias legalizados.

Entre a era Reagan e a atual, em contrapartida, a taxa de poupança dos EUA despencou de 11% do total da renda das famílias para 0,6% até meados do ano passado.

Nos anos Reagan, aos bancos e empresas foi dada quase total liberdade. O governo cortou impostos e incentivou o aparecimento de produtos financeiros e bancos de investimento mais “sofisticados”. Assim como de braços financeiros de empresas industriais, como General Eletric e General Motors, que acabaram não ficando submetidos a regras mais estritas.

Agora, Obama vai na direção oposta.

Sua proposta de regulamentação do sistema financeiro e para as empresas em geral é ambiciosa, abrangente e, do ponto de vista dos bancos, quase draconiana. Especialmente no que se refere a bônus a executivos, liberdade para operar e quanto à criação de produtos financeiros “exóticos”.

Em carta enviada aos presidentes dos países do G20, que se encontram nesta semana em Londres, o IIF, que reúne quase quatro centenas de bancos no mundo, diz, candidamente: “Reconhecemos que as estruturas de compensação têm problemas e que precisamos colocar em prática medidas mais adequadas às exigências de estabilidade do mercado”.

Por trás desse “tucanês”, os bancos sabem que pagaram demais, exageradamente, a pessoas que quebraram o sistema. E que agiram de forma totalmente irresponsável. A tentativa é fazer um “mea-culpa” preventivo, antes que a mão do Estado venha pesada demais sobre eles. Tentam se antecipar. Mas, desta vez, o caso parece perdido.

De forma hábil, Obama vai usando a crise como mola mestra para sua agenda. Endividados e dependentes da ajuda estatal nos EUA e em vários países, os sistemas financeiro e empresarial dificilmente escaparão do novo enquadramento.

Até há pouco, antes de sua derrocada, era o porrete do mercado que ditava as regras e punha governos de joelhos.

É esse o jogo que Obama parece querer virar.

Fernando Canzian, 42, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.

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