Os rumores sobre a morte do reinado das finanças na economia global parecem exagerados. Está se confundindo a parte (podre) com o todo. O sistema financeiro é uma das grandes invenções humanas, o maior multiplicador de riquezas. Sujeito a excessos, colapsos, esquemas, crimes, infâmias. Mas indispensável e regenerável.

Por isso o governo americano decidiu gastar sabe-se lá quanto, mas muito, mensurável em PIBs brasileiros, para tentar estabilizar o mercado financeiro global.

O economista Nouriel Roubini, o “Mr. Doom” (Sr. Catástrofe), prevê corrida a bancos e muitos 11 de Setembros financeiros pela frente. É uma resposta tão sólida quanto todas as outras à pergunta de 1 trilhão de dólares. Ninguém sabe o que vai acontecer, é difícil agir.

Não é a suposta morte do liberalismo, mas seu pragmatismo, que explica a contradição de a administração Bush ser a mãe da maior intervenção econômica da história do capitalismo. A frenética escalada da crise balançou de tal forma os alicerces das finanças globais que a ideologia ficou pequena. E o Tesouro americano abriu seu imenso bolso para contentar democratas e republicanos a semanas da eleição presidencial.

Bancos quebram (e quebrarão) na Irlanda, na Bélgica, no Reino Unido, nos Estados Unidos. Conglomerados gigantes tropeçam. A elevação da garantia do governo americano aos depósitos bancários de US$ 100 mil a US$ 250 mil tranqüilizam muitos correntistas mas reforçam a previsão de que a corrida aos bancos é possível. Se você tivesse US$ 5 milhões no cambaleante, quem diria, Goldman Sachs, não preferiria o colchão da sua casa ou os títulos do Tesouro?

Numa outra fantástica inversão de papéis, potências emergentes são chamadas a ajudar as grandes economias do mundo. O que mostra que a crise, como diz o clichê, traz oportunidades. Warren Buffet, o homem mais rico do mundo pré-colapso de Wall Street, compra ações aos bilhões de empresas americanas praticamente toda semana. Mas se você não é Warren Buffet, mas, digamos, o governo brasileiro, o mais prudente só pode ser a prudência.

No Brasil, já temos sobressaltos. O congelamento do crédito faz vítimas entre nós. Planos estão sendo revistos, suspensos. A economia deve desacelerar. O presidente Lula, depois de semanas mandando recados a Bush sobre o que o fazer na crise, decidiu agir e convocou os ministros. Se errar, arrisca grande retrocesso.

A opção mais prudente é a prudência. Mas Lula, fascinado com suas muitas conquistas, parece tentado a manter o crescimento na marra, o que sempre trouxe desastre econômico.

É verdade que a economia brasileira vinha pegando tração virtuosa, e nossos empresários ganhavam gosto pelo investimento. Ninguém quer perder isso. Mas neste pouso forçado da economia mundial, depois da expansão sem precedentes dos últimos anos, é preciso manter o cinto de segurança apertado. Não sabemos quais esqueletos estão ainda no armário. Qualquer decisão agora será prematura. Perigosa.

Melhor um 2009 morno que um catastrófico 2010, 2011, 2012…

Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, “A Árvore” (1986) e “Carô no Inferno” (1987). Escreve para a Folha Online às quintas. O autor colaborou com o blog e seus artigos podem ser conferidos no site da Folha.

E-mail: smalberg@uol.com.br

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