Apenas duas, das 16 capitais onde o DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica, apresentaram queda no preço dos gêneros alimentícios essenciais, em maio: Goiânia (-1,19%) e Salvador (-0,35%). Rio de Janeiro (0,31%) e Belo Horizonte (0,98%) apresentaram aumentos modestos; mas localidades como Recife (14,19%), Natal (8,91%) e Florianópolis (7,61%) registraram elevações expressivas.

Com a variação apurada em maio, houve alteração no quadro das capitais nas quais foram verificados os maiores custos para a cesta básica. O maior valor foi apurado em Porto Alegre (R$ 236,58), seguido por São Paulo (R$ 233,92) e em terceiro lugar, Belo Horizonte (R$ 230,55). Em abril, o maior custo fora anotado na capital mineira. Salvador (R$ 176,05), Aracaju (R$ 183,40) e João Pessoa (R$ 187,21) registraram os menores valores.

Com base no custo apurado para a cesta em Porto Alegre, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deveria suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário. Com a alta ocorrida na maioria das localidades, o salário mínimo necessário passou a corresponder, em maio, a R$ 1.987,51, o que representa 4,79 vezes o piso em vigor (R$ 415,00). Em abril, o mínimo necessário equivalia a R$ 1.918,12, ou seja, 4,62 vezes o piso. Em maio de 2007, a relação entre o mínimo vigente e o necessário era bem menor que o atual, pois o valor de R$ 1.620,64 correspondia a 4,26 vezes o mínimo oficial (R$ 380,00).

Variações acumuladas

As variações acumuladas entre janeiro e maio são bastante elevadas para quase todas as cidades. Os maiores aumentos ocorreram em capitais do Nordeste: Recife (26,52%), Fortaleza (24,28%), Natal (21,87%) e João Pessoa (20,71%). As menores elevações foram verificadas em Goiânia (1,08%), Aracaju (7,15%), Belém (8,63%) e São Paulo (8,99%).

Os aumentos acumulados em 12 meses – de junho de 2007 a maio último – superam o patamar de 20,0%, em todas as capitais, enquanto o salário mínimo subiu, em março, 9,21%. Os destaques foram Recife (46,55%), Fortaleza (40,78%) e Natal (40,75%). As menores altas foram apuradas em Porto Alegre (22,64%) e Goiânia (24,22%).

Cesta x salário mínimo

A exemplo do que se verificou em abril, também em maio o grande aumento da cesta básica, principalmente no período anual – caso em que todos os percentuais foram bem superiores à revisão do salário mínimo – implicou a necessidade de realização de maior jornada média para aquisição dos produtos essenciais. Dessa forma, o trabalhador remunerado pelo salário mínimo, na média das 16 capitais pesquisadas, precisou cumprir, em maio, uma jornada de 111 horas e 08 minutos, para adquirir os mesmos bens que no mês anterior demandavam 106 horas e 57 minutos. Em comparação com maio de 2007 – quando o preço da cesta estava em queda em todas as capitais – a diferença supera 19 horas, pois o tempo necessário correspondia a 92 horas e 03 minutos.

A mesma diferença pode ser verificada quando se compara o custo da cesta com o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto equivalente à Previdência Social. Em maio, a compra da cesta exigia o comprometimento de 54,91% do rendimento líquido, enquanto em abril, a aquisição requisitava 52,84% desse total. Em maio de 2007, eram necessários 45,31% para comprar os mesmos produtos.

Comportamento dos preços

Quando se observa o comportamento dos preços em maio em comparação com os de abril, a maior parte dos itens que compõem a cesta básica teve aumento na maioria das capitais. Caso se faça a comparação com maio de 2007, verifica-se que sete produtos pesquisados nas 16 capitais tiveram alta em todas elas. Estes aumentos generalizados devem-se basicamente a fatores climáticos, pressões do mercado internacional e à alta dos insumos como adubos e fertilizantes derivados do petróleo, uma vez que este teve forte aumento.

A carne teve alta, no mês em 15 capitais, e apenas em Brasília houve retração (-2,22%). As maiores elevações ocorreram em Florianópolis (9,92%) e Curitiba (6,20%). No período anual, o produto teve aumento nas 16 localidades, com variações entre 16,74%, em Porto Alegre, a 39,09%, em Fortaleza. O período de maior oferta do produto está no fim e seu preço encontra-se em patamar elevado. Como a Comunidade Européia reviu sua posição contra a importação da carne brasileira de vários estados, a exportação pode ser mais um fator de pressão para os preços, ainda que haja forte concorrência de países vizinhos como Argentina e Uruguai que praticam preços menores.

Também o arroz teve alta em 15 capitais, com exceção apenas do Rio de Janeiro, onde houve pequena queda (-0,45%). Os aumentos situaram-se entre 7,03%, em Salvador, e 36,77%, em Florianópolis. Quinze capitais registraram também aumento em 12 meses no preço do produto. Neste período, as elevações ficaram entre 13,03%, em Recife, e 47,50%, em Porto Alegre, capital de estado de grande produção do bem e que acabou de colher a safra da variedade agulhinha. Devido ao anúncio de escassez mundial de grãos, provavelmente há retenção do cereal por parte de produtores e especulação no comércio intermediário. Como é pouco provável que este quadro se mantenha, a expectativa é de barateamento nos próximos meses.

No caso do pão, o preço ficou estável em Belém, em maio, e caiu em Salvador (-2,55%). Em 14 capitais, porém, foram verificadas elevações, com destaque para Porto Alegre (10,16%); Brasília (8,63%), Natal (7,80%) e Aracaju (7,64%). No período anual, os aumentos ocorreram em todas as capitais, com variações superiores a 30,0% em Belo Horizonte (35,35%), Natal (33,57%) e João Pessoa (30,63%). Apenas em Goiânia (4,48%) a alta ficou abaixo de 10,0%. Os aumentos do pão estão relacionados ao encarecimento da farinha de trigo, cuja importação está sendo realizada de países mais distantes e com maior custo de frete – como EUA e Canadá, pois a Argentina está privilegiando a exportação da farinha de trigo. Este produto, que tem seu preço acompanhado na cesta básica das capitais do Centro-Sul do país, teve alta em oito localidades, a maior de 11,11%, em Brasília e a única redução deu-se em Goiânia (-2,63%). Em comparação com maio de 2007, o aumento foi expressivo em todas as nove capitais, situando-se entre 32,50%, em Vitória e 52,75%, em Goiânia.

O leite teve aumento, em maio, em 13 capitais, com as maiores elevações verificadas em Florianópolis (3,55%) e Goiânia (3,35%). Em João Pessoa não houve alteração de preço e recuos ocorreram em Brasília (-0,54%) e Salvador (-14,55%). Em relação a maio do ano passado, o leite teve aumento em todas as 16 regiões, com variações entre 15,15%,, em Goiânia, a 33,33%, em Salvador. No próximo mês de junho tem início o período de entressafra, quando cai a oferta e há encarecimento do produto. No entanto, se as condições climáticas forem mais favoráveis, a redução da oferta pode ser menor.

O tomate, produto cujo preço é sempre sujeito a oscilações, teve aumento em 12 capitais, com taxas expressivas em Recife (119,86%) e Natal (43,23%). As reduções foram observadas em Belo Horizonte (-0,32%), Brasília (-0,39%), Rio de Janeiro (-3,00%) e Goiânia (-9,62%). Em comparação com maio de 2007, o tomate apresenta aumento em todas as capitais, que chegam a taxas muito elevadas em Recife (217,82%), Vitória (189,83%) e Belo Horizonte (129,85%), mas também registra altas mais modestas, como em Belém (3,50%) e Salvador (9,66%). O aumento no preço do tomate, além de episódios de especulação, relaciona-se à alta dos adubos e fertilizantes derivados do petróleo, usados na lavoura.

O preço do feijão destacou-se, em maio, pela predominância de queda. Houve retração em 14 capitais, com destaque para Fortaleza (-16,85%), João Pessoa (16,30%), Goiânia (-11,33%) e São Paulo (-10,31%). Os aumentos ocorreram em Curitiba (9,10%) e Porto Alegre (1,95%). Apesar da retração do último mês, o feijão ainda está bem mais caro que em maio do ano passado. Apenas em João Pessoa a elevação anual é inferior a 100,0%, ficando em 94,97%. As variações chegam a 171,68%, em Fortaleza; 164,83%, em Belém; 159,96%, em Belo Horizonte; 158,79%, em Porto Alegre e 152,81%, em Salvador. Para os próximos meses é esperada a manutenção da tendência de queda no preço.

São Paulo

Em maio, o custo da cesta básica na capital paulista foi de R$ 233,92, com um aumento de 2,68% em relação ao mês anterior. O valor registrado em São Paulo foi o segundo maior dentre as 16 capitais pesquisadas pelo DIEESE, sendo superado pelo de Porto Alegre (R$ 236,58). Nos cinco primeiros meses deste ano a alta está em 8,99% enquanto em 12 meses o aumento chegou a 26,49%.

Somente o feijão carioquinha apresentou redução em seu preço na capital paulista: -10,31%. Três itens registraram estabilidade, caso do café em pó; açúcar refinado e manteiga. Elevações relativamente pequenas ocorreram para o óleo de soja (0,31%); carne bovina de primeira (1,93%); leite in natura tipo C (1,67%); banana nanica (2,17%). O pão francês subiu 5,68%; três produtos aumentaram cerca de 10,0%: batata (10,37%); tomate (10,57%) e farinha de trigo (10,63%) enquanto o arroz agulhinha tipo 2 teve o maior aumento: 21,25%.

Três produtos tiveram, em maio, preço inferior ao verificado em igual mês, em 2007: batata (-3,72%); café (-6,00%) e, principalmente, o açúcar (-23,24%). Os outros 10 itens subiram. As altas mais expressivas foram apuradas para o feijão (104,62%); óleo de soja (63,00%); farinha de trigo (42,74%); arroz (39,57%) e tomate (36,28%). As mais contidas variações anuais (nem por isso, pequenas) deram-se para a manteiga (15,89%); carne (21,60%); banana (22,11%); leite (23,83%), e pão (27,88%).

Em maio, o trabalhador paulistano cuja remuneração equivale ao salário mínimo necessitou cumprir uma jornada de 124 horas, quase três horas a mais que em abril, quando correspondia a 120 horas e 46 minutos. Em comparação com maio de 2007, o tempo de trabalho necessário verificado para o último mês, supera em quase 17 horas o então registrado (107 horas e 04 minutos).

Também quando se considera o valor do salário mínimo líquido – após o desconto da parcela referente à Previdência Social – verifica-se a mesma correlação. Em maio, o custo da cesta representava 61,27% do valor do mínimo líquido, contra 59,67%, de abril e 52,70% de maio de 2007. Estes resultados mostram que o custo da cesta subiu muito mais que o salário mínimo, reajustado em março deste ano.

Fonte: Dieese

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