Reflexões sobre o futuro da Antártida
“A continuar a forma e o nível de exploração dos recursos naturais, será necessária, (…) a utilização de outro planeta com as mesmas dimensões e potencialidades da Terra”.

Há mais de duas décadas conversávamos – o economista e jornalista Paulo Barbosa e este articulista – com Ignácio Rangel sobre as perspectivas energéticas do nosso planeta, quando o economista maranhense, um dos mais brilhantes e profícuos estudiosos da inflação brasileira, mencionara o grande potencial energético da planície siberiana da então União Soviética. Assistimos a uma aula de conhecimento e de manifestação de ideias reveladoras e pioneiras. Quanta sabedoria nos revelara aquele homem simples, cordato, com uma inteligência impressionantemente privilegiada. Aquele encontro e aquela conversa nos marcaram.

Pois bem, durante um Carnaval, em cruzeiro marítimo pelos meridionais mares gelados da América do Sul e pela península Antártica pudemos rememorar a conversa rangeliana e refletir sobre as imensas potencialidades energéticas do continente frio. Ante a imensidão desconcertante é comum quedar-se felizmente inebriado.

Assim, as reflexões foram pautadas pela antiga conversa com Ignácio Rangel. Estava-se diante de um fabuloso presente da mãe natureza aos pensadores, estudiosos e cientistas de todo o mundo que, preocupados com a questão energética, buscam soluções que possam minorar o caos eminente que ameaça o planeta. Não é desprezível a ameaça representada pelo esgotamento da camada de ozônio, principalmente pelo Hemisfério Sul.

O constante deslocamento das correntes marítimas não poderia, quiçá, de alguma forma cientificamente estudada, como já se faz com o movimento das marés, subsidiar a formulação de projetos energéticos econômica e ecologicamente sustentáveis? E as imensas reservas de água contidas nos quilométricos icebergs e nos chamados Campos de Gelo do Sul não poderão, no futuro, aplacar a sede e propiciar a produção de alimentos para milhões de seres humanos famintos?

A imaginação percorreu uma gama de prováveis alternativas de produção de energia: a pororoca do Amazonas, o pantanal brasileiro, a energia geotérmica dos vulcões e que tais.

Soube-se que doze países formam hoje uma espécie de condomínio a pesquisar a Antártida, dentre os quais se encontram o Brasil, a Argentina, o Chile a Polônia e a Grã-Bretanha, todos com bases instaladas naquele continente.

Tem-se afirmado amiúde que, a continuar a forma e o nível de exploração dos recursos naturais, será necessária, daqui a menos de meio século, a utilização de outro planeta com as mesmas dimensões e potencialidades da Terra. Portanto, a primeira metade deste século será crucial para a adoção de medidas de caráter global, que possam modificar o padrão de exploração dos recursos naturais, de forma a deter o avanço da poluição do planeta.

Hoje em dia, o estoque de conhecimento científico e tecnológico disponível já pode encaminhar adequadamente o equacionamento da questão energética e da proteção do meio ambiente. As engenharias, a física, a biotecnologia, a nanotecnologia estão aí, à disposição do policy makers. Falta, entretanto, a compreensão dos principais líderes das potências mundiais e um movimento de vulto mundial para que se comece, efetivamente, a defender o planeta de sua extinção como lócus privilegiado para a sobrevivência humana.

Rio 92, Kyoto e outros foram importantes e necessários, mas não se mostraram suficientes para tranquilizar a comunidade científica internacional. O estudo intensivo do aproveitamento apropriado da Antártida poderá configurar-se em um bom começo.

* Este artigo foi originalmente publicado no site do Cofecon.

** Nilton Pedro da Silva é doutor em economia, advogado e ex-conselheiro do Cofecon.

    Leia Também

  • Educação financeira

    Economizando em Tempos de Crise: Dicas Práticas para Gerenciar suas Finanças

  • Cinco atividades de lazer que movimentam a economia das grandes cidades

  • Afinal, qual é o melhor curso Ancord?

Comentários

Melhore sua saúde financeira e tenha uma vida melhor