O Brasil é um dos países mais religiosos do mundo. A fundação alemã de pesquisas Bertelsmann divulgou, em 2007, a lista dos países cuja população mais se considera religiosa e o Brasil, com 96%, ficou em segundo lugar, ficando atrás apenas da Guatemala. Há outras listas e pesquisas que divergem sobre a colocação brasileira neste ranking, mas o país sempre figura entre os dez.

Segundo o ministério do Turismo, as viagens motivadas pela fé mobilizaram 17,7 milhões de pessoas só em 2014. A religião é o motivo de 3,6% de todas as viagens feitas no Brasil, de acordo com a pasta, que identificou mais de 340 cidades que são destino obrigatório no calendário anual dos eventos que envolvem a fé.

As estimativas oficiais do ministério são de que o segmento movimente cerca de R$ 15 bilhões por ano no país.

O principal destino do turismo religioso no Brasil é Aparecida, no interior de São Paulo, onde fica a basílica construída em 1946 e que guarda a estátua original de Nossa Senhora Aparecida. Só no ano passado, a cidade recebeu mais de 12 milhões de visitantes.

Turismo religioso movimenta mais de R$ 15 bilhões por ano na economia brasileira
Passarela da Fé, Aparecida.

Aparecida recebe romeiros ao longo de todo o ano, mas a movimentação explode no dia 12 de outubro, feriado nacional pelo dia da santa. O recorde de visitantes foi na década de 1990, quando, na data, mais de 200 mil fiéis passaram pelo santuário.

Quando se fala em turismo é importante perceber o quanto este setor contribui economicamente para as cidades. Os fiéis que visitam utilizam o transporte, a hotelaria, os restaurantes e fazem compras no comércio local.

Em 2013, os cinco destinos religiosos que estão entre os mais procurados do país receberam cerca de R$ 600 milhões do governo Federal para fortalecer o turismo. Além de Aparecida, em São Paulo, os municípios contemplados foram Bragança, no estado do Pará, onde anualmente acontece a tradicional Marujada entre as festividades em honra a São Benedito. A festa ocorre desde o fim do século XVIII; Nova Trento, em Santa Catarina, onde fica o morro da cruz e o santuário de Madre Paulina, canonizada pelo papa João Paulo II, em 2002; Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, onde se encontra a maior estátua de Santa Rita de Cássia da América Latina; e Trindade, em Goiás.

Turismo religioso sazonal
Procissão do Círio de Nazaré, em Belém do Pará.

Turismo religioso sazonal

No município de Trindade, em Goiás, a festa do Divino Pai Eterno recebeu, em 2014, cerca de 2,8 milhões de fiéis vindos de todo o país. Durante as festas, que acontecem no mês de julho. Os romeiros ocupam 100% dos leitos dos hotéis e pousadas da cidade, além das casas de parte da população que aluga quartos para as festas. É a principal fonte de renda da cidade de 115 mil habitantes.

Muitas das cidades que atraem as romarias voltam os esforços e os investimentos para festas ou eventos anuais.

A festa do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, por exemplo, é uma das maiores festas religiosas do mundo e acontece em outubro, quando reúne cerca de um milhão e meio de devotos que acompanham o trajeto de 3,5 km da procissão anual. As pessoas vão até a cidade movidas pela fé e com o principal objetivo de conseguir bênçãos ao seguir o cortejo que acompanha a imagem de Nossa Senhora. Por consequência do evento, a cidade registra aumento no nível de empregos, além de lucro aos hotéis, pousadas e restaurantes que recebem turistas.

Mais que a movimentação nos setores comuns, a economia se beneficia dos festejos de maneira geral, como os shows que acontecem com artistas religiosos. No ano passado, o chamado Círio Musical foi de 12 a 26 de outubro e a prefeitura alocou recursos para levar artistas e bandas como Pe. Antônio Maria, Anjos de Resgate e Rosa de Saron.

O investimento do Estado nesse tipo de atração é indício do retorno financeiro que a fé traz para o município.

Cidades como Juazeiro do Norte, no Ceará, também aproveitam a movimentação maior em certas épocas do ano. Em novembro, a cidade do sertão nordestino abriga mais fiéis do que habitantes: são cerca de 300 mil romeiros que vão prestar homenagem ao padre Cícero Romão Batista, um líder político e religioso responsável pelo desenvolvimento do município, no início do século XX.

Mas não é só nesta data que a cidade atrai turistas. Por ano, a cidade recebe 2 milhões de pessoas, que fazem parada obrigatória na estátua de mais de 27 metros do padroeiro da cidade.

Turismo evangélico
Templo de Salomão, em São Paulo. Foto: Rafael Neddermeyer

Turismo evangélico

Não só de católicos vive o turismo religioso. Segundo o senso de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os evangélicos já são aproximadamente 22% da população que se declara religiosa no Brasil.

O Templo de Salomão, construído pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, na capital de São Paulo, é o maior templo evangélico já construído no país e esgotou os ingressos para os cultos nos dois primeiros meses logo após a inauguração, em 2014.

Mas como as igrejas protestantes, diferentemente da Católica, não consagram imagens e templos, o turismo para este público fica mais voltado para encontros com lideranças, como os retiros de oração e os chamados Cruzeiros Gospel, que contam com cultos diários e shows de astros da música religiosa.

 

A Terra Santa atrai fiéis de três das maiores religiões do mundo.
A Terra Santa atrai fiéis de três das maiores religiões do mundo.

Mundo

No turismo religioso internacional, algumas particularidades ficam mais evidentes. Nem sempre quem viaja para algum lugar importante para alguma religião está fazendo isso pela fé. Muitos dos turistas que buscam os templos e locais sagrados o fazem pelo valor histórico que esses locais guardam.

A chamada Terra Santa, em Israel, é de extrema importância para três das maiores religiões do planeta. Jerusalém é sagrada para os cristãos, pois acredita-se que lá Jesus Cristo foi crucificado e morto. Para os muçulmanos, sob o domo da rocha, uma cúpula feita de ouro maciço, estaria a pedra de onde o profeta Maomé ascendeu ao encontro de Deus. Para os Judeus, o centro da cidade abriga o Muro das Lamentações, a única ruína que sobrou do templo do rei Salomão.

Saindo de São Paulo, os pacotes são variados e variam de R$ 1 mil até mais de R$ 15 mil por pessoa, dependendo do nível de viagem e hospedagem e de outros lugares que podem ser visitados, como o Egito e ruínas que antes pertenciam a religiões antigas, mas hoje possuem valor histórico inestimável, como as próprias pirâmides egípcias ou a cidade de Petra, cuja ruína mais famosa é a entrada de um templo esculpido num paredão de pedra, na Jordânia.

O Vaticano, país independente governado pela Igreja Católica Romana e morada do Papa, fica no centro de Roma. A cidade é o décimo primeiro destino mais procurado pelos brasileiros no mundo, segundo levantamento do jornal Folha de São Paulo. Lá também ocorre a convergência entre a busca histórica e religiosa e que traz um retorno turístico grandioso. A cidade recebe em média 7 a 10 milhões de turistas por ano vindos de todo o planeta.

Além do Vaticano e da Terra Santa, os outros três dos cinco destinos religiosos mais procurados do mundo são destinos católicos. São eles o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França, e o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México.

O hinduísmo é a quarta maior religião do mundo.
O hinduísmo é a quarta maior religião do mundo.

Ásia

O continente asiático guarda templos que, pela história, atraem a curiosidade não só dos turistas Brasileiros, mas dos ocidentais em geral. A maioria destes templos milenares são locais de adoração dos budistas, dos hindus e de seguidores do Xintoísmo, maior religião no Japão.

Apesar de europeus e americanos atravessarem o mundo pelo choque de costumes e em busca destes locais consagrados, é importante lembrar que o Hinduísmo e o Budismo são a terceira e quarta maiores religiões do mundo e somam mais de 20% dos fiéis de todo o planeta.

Turismo religioso e a economia

O segmento de turismo religioso é uma parcela importante da economia mundial. É benéfico para os fiéis, não importa de qual crença, e para os locais que os recebem. Enquanto os religiosos podem viver seus credos de maneira plena ao se sentirem mais perto do que consideram sagrado, as cidades podem, com a preparação certa, se beneficiar de uma movimentação econômica sólida e duradoura.

Só no Brasil, cidades como Aparecida, em São Paulo, e Nova Trento, em Santa Catarina, tem uma economia praticamente dependente desse tipo de turismo. Não existem dados oficiais, por exemplo, do quanto a indústria e o comércio especializado em artigos religiosos movimentam, mas milhares de famílias tiram exclusivamente dessa ocupação o seu sustento.

Essa é a parte da fé que pode ser provada e comprovada. O certo e o incerto movimentando a economia pelo mundo inteiro.

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