trabalho

Quando eu ingressei no mercado financeiro – recém-saído da faculdade, há uns 10 anos – acreditava que aquele era o melhor trabalho possível para um profissional na minha área aos vinte e poucos anos de idade. Trabalhar num grande banco internacional, com perspectiva de ganhar um bom salário e um bônus gordo ao fim do ano, mesmo que para isso eu tivesse que ralar muito e engolir muito sapo, parecia ser o sonho de vida. E eu não estava sozinho nessa crença: grande parte dos meus colegas seguiram o mesmo caminho.

Hoje eu estou à frente da Lendico, plataforma de empréstimo online, e praticamente todos os funcionários estão na casa dos vinte e poucos anos. Olhando para eles ainda consigo ver muito de mim há uma década, mas também consigo perceber uma diferença grande entre essa nova geração e a minha. Além de salário e bônus, essa galera está preocupada em ter uma boa experiência de trabalho. Sem isso, eles perdem rapidamente a motivação e acabam buscando novas oportunidades em ambientes mais estimulantes.

Eu vejo muitos colegas empreendedores, no meu setor e fora dele, investindo tempo e dinheiro para atingir a melhor “consumer experience”. Falam dos desafios da área em eventos e artigos, mas não vejo nenhum deles tratando da “employee experience”. Quando as empresas, principalmente as startups, não se preocupam em oferecer o melhor ambiente de trabalho e corresponder às expectativas dos seus funcionários, é quase impossível avançar nas questões relacionadas à satisfação do cliente. Certa vez, um executivo me disse que tinha problemas na sua equipe. Considerava os mais jovens descomprometidos, arrogantes ou preguiçosos. Não é bem assim. Esses jovens esperam que seu trabalho seja motivante e desafiador, que seja “legal”, enquanto aos olhos dos veteranos, é natural que sobre para os mais novos realizar as tarefas mais banais e repetitivas.

Os nativos digitais, como essa geração é chamada, são menos motivados por dinheiro que a Geração Y (a minha dos tempos de banco) e possuem mais ambições empreendedoras. A pró-atividade com relação aos meios digitais também leva muitos a desejarem ter sua própria startup. O trabalho para eles precisa ser uma extensão da casa. Uma pesquisa realizada pela Robert Half Consultoria, em 2015, ouviu membros da geração Z dos Estados Unidos e revelou o que esses jovens esperam do mercado de trabalho. Segundo o levantamento, 77% deseja trabalhar com o mesmo afinco das gerações anteriores e, apesar de serem super conectados, 74% prefere se comunicar pessoalmente, cara-a-cara, com os colegas. Em média, eles pretendem passar por quatro empresas ao longo da vida, procurando por bons salários, horário flexível, benefícios e um chefe com quem possam aprender.

Para essa geração, o trabalho escolhido é uma espécie de manifesto, um reflexo das suas escolhas e da sua personalidade. Ela precisa ser estimulada intelectualmente e ser desafiada. As grandes empresas já definiram até que ponto podem flexibilizar seus padrões de gestão para satisfazer esses funcionários, mas, em muitos casos, essas mudanças ainda são insuficientes para reter os talentos. Aqui na Lendico estamos preocupados em avançar rapidamente nesse aspecto. O escritório vem ganhando cara nova e mais moderna, envolvemos todos os funcionários nas decisões e compartilhamos os desafios. Damos autonomia e reconhecimento. Aqui não tem “mimimi”, mas nos preocupamos, de verdade, com as expectativas desses funcionários. Estamos falando sobre formar a base de líderes da empresa e construir nossa cultura corporativa. Serão eles os responsáveis por transmitir adiante os nossos valores.

Essa geração veio nos mostrar que é possível que o trabalho seja mais do que uma contagem regressiva para o final de semana. E para os jovens que leram até aqui, fica uma dica: é importante buscar trabalhos instigantes e desafiadores ao longo da carreira, mas saibam que, em qualquer emprego e até mesmo empreendendo, você irá enfrentar obstáculos e fazer o que não gosta. Isso é parte do processo de aperfeiçoamento profissional que te levará mais longe. Nada vem fácil, mas não precisa ser chato o tempo todo.

* Marcelo Ciampolini é formado em Engenharia Naval pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), iniciou sua carreira no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Em seguida, já no mercado financeiro, passou pelo Private Bank do Banco Espirito Santo na Suiça, Asset management do Santander Brasil e tesouraria do Banco BNP Paribas Brasil, de onde saiu em 2013 a fim de empreender em fintech.

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