Quando me disseram pela primeira vez que o dinheiro não traz felicidade, não foi porque eu era um rico infeliz, mas um pobre a quem queriam consolar.Provavelmente, quem pela primeira vez usou o clichê foi um ricaço cuja bela mulher fugiu com alguém sem dinheiro, como o cavalariço ou o motorista, dependendo da época. No auge da dor do cotovelo, o endinheirado chorou as mágoas: “De que vale tanto dinheiro, se não tenho a mulher que eu amo?”. Da desdita do homem rico, foi um passo para o dito, “o dinheiro não traz felicidade”.

Simples assim? Não, caro leitor. O enunciado consolador não traz nada de amor fracassado, porque é a essência de…uma tese acadêmica. Os economistas sabem que estou falando do “Paradoxo de Easterlin”, uma teoria segundo a qual o crescimento econômico não leva necessariamente a uma maior satisfação.

Os japoneses, por exemplo, de 1950 a 1970 tiveram um ganho espetacular no PIB, que cresceu sete vezes. Ficaram mais ricos, mas não se disseram mais felizes.

A tese transitou incólume no mundo acadêmico – o “scholar” Richard Easterlin ainda leciona na Universidade da Pensilvânia – por mais de 30 anos, e só mais recentemente vem enfrentando alguma oposição de estudiosos mais novos, para quem, quanto mais dinheiro tiverem as pessoas, quanto mais ricas forem as nações, mais elas tendem a serem felizes.

Mas, cá para nós, uma questão assim rudimentar, merece por acaso uma tese acadêmica, uma teoria econômica?

Você pode ser um rico infeliz, mas com grana sempre poderá se fazer menos infeliz.

Você pode ser feliz, rico ou pobre. Mas se você for rico poderá viajar duas vezes por ano a Nova York, Londres e Paris, que – sejamos francos – é melhor do que ser pobre, e quando muito descer até Santos no feriadão num ônibus de farofeiros.

Além disso, mesmo sendo pobre (e feliz), você não está livre de refletir sobre a vida e divagar na filosofia. Em algum momento pode cair a ficha e se fazer a pergunta fatal: mas se sou pobre, que razões eu tenho, mesmo, para ser feliz?

Mas sejamos otimistas. Nem tudo está perdido, mesmo se você for pobre e infeliz. Em caso assim extremo, você ainda pode apelar para o pai dos pobres – você sabe quem é – e requerer a inscrição no programa Bolsa Família.

Tito Guarniere (titoguarniere@terra.com.br)

Tito Guarniere é bacharel em direito e jornalismo, além de colunista do jornal O Sul, de Porto Alegre. Contribui quinzenalmente para a revista on line Terra Magazine e partir de agora seus textos também serão publicados no Blog.

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