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A vitória de Donald Trump pode sacramentar o fim de uma era que se acelerou no final da década de 1970, com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.

Vale dizer que, principalmente depois da “Queda do Muro de Berlim”, esse período foi marcado pelo princípio de desmontar a estrutura de excessivo controle estatal, as restrições aos fluxos comerciais e valorizar os direitos e liberdades individuais, inspirados por economistas e filósofos liberais como Friedrich Hayek, Frank Knight, Karl Popper, Ludwig von Mises, George Stigler e Milton Friedman, fundadores da Mont Pellerin Society. Seus propósitos visavam discutir e disseminar os ideais liberais. Ironicamente, 9/11 a data da vitória de Trump é o anagrama de 11/9, a data do atentado às Torres Gêmeas em 2001, quando o mundo parece ter feito a perigosa escolha de mais segurança (baseada em um Estado forte) em detrimento da liberdade.

Por décadas o mundo ocidental buscou reduzir as barreiras comerciais, ampliar o fluxo de capitais e a mobilidade de pessoas, consolidar a democracia representativa como forma de governo e o respeito legal às liberdades individuais. Obviamente o processo não foi perfeito, mas a ideia era evitar um retorno à guerra mundial, ao protecionismo e ao totalitarismo.

A partir do ataque de 11 de setembro, liberdades individuais foram cada vez mais tolhidas (em nome da “Guerra contra o Terror” e do “Homeland Security”) e a mobilidade internacional de pessoas dificultadas. Se prevalecer o discurso que levou Trump à vitória, o desmantelamento dos valores liberais pode se dar com as medidas contra o livre-comércio mundial (taxação de produtos importados – especialmente os chineses -, ruptura de acordos comerciais – como o NAFTA -, restrições aos fluxos de capitais e investimentos chineses em território americano, medidas anti-imigração – especialmente no que se refere ao México – com a construção de um simbólico muro).

Não será fácil unir os EUA depois de um discurso tão agressivo e desconstrutivo. Governar, mesmo com maioria republicana na Câmara e Senado, será muito difícil.
Espera-se que o establishment, que tanto o candidato vitorioso criticou, seja capaz de conter seus eventuais rompantes. O discurso apolítico que seduziu o eleitorado dos EUA não ajuda em nada. A esperança é que os Republicanos clássicos, sob o domínio da ética da responsabilidade, assumam o papel de conduzir com o mínimo de bom-senso o futuro governo.

Figuras como o economista Edwin J. Feulner, chefe da equipe econômica de transição, com atuação no governo Ronald Reagan e no think-tank Heritage Foundation, podem ser de extrema importância, assim como o cotado para presidência do Federal Reserve, o macroeconomista John B. Taylor.

Todavia, isso não significa que será fácil, pois, mesmo assim, medidas mais duras em relação à imigração e aos imigrantes, ao comércio internacional e às relações internacionais tendem a ocorrer em algum grau. Preocupa-nos, sobretudo, eventual “vazio” que os EUA podem deixar ao reverem o papel de “xerifes do mundo”. Não há vácuo de poder na política e na geopolítica e a figura de Vladimir Puttin (publicamente exaltada por Trump) no comando de uma Rússia saudosa de influência e domínio territorial é algo a ser considerado.

Ou seja, tempos de incerteza se colocam. Não se sabe ainda o que vai predominar, o Donald Trump da campanha, ou o presidente sob controle da “velha guarda” (elite) do Partido Republicano. Fica para o Brasil a apreensão em um momento crítico de desempenho de sua economia. Vale lembrar que os EUA ainda são grandes parceiros comerciais e de investimento.

* Vladimir Fernandes Maciel Coordenador do Mestrado Profissional em Economia e Mercados e pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.

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