Para professor, não há sintonia no governo para gerir economia do país
“Infelizmente nós ainda não estamos vendo uma boa sincronia entre ministro e presidente. Ele determina algumas coisas e a presidenta vai lá, analisa, põe pressão e faz voltar atrás.”

O professor Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis e professor no curso superior e na pós-graduação da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. Para ele,o reajuste deve surtir efeito positivo, mas a máquina pública continua sendo o principal problema da nossa economia.

Os resultados do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 ficaram próximos à estagnação total, abaixo do esperado pelo governo, mas analistas financeiros e economistas pouco se surpreenderam. A desaceleração esperada foi puxada pela falta de investimentos na indústria e pelos excessos de gastos públicos no ano passado.

O professor da Faculdade Santa Marcelina, Reginaldo Gonçalves, critica não só a política econômica do governo Dilma antes dos reajustes, mas também os altos custos gerados pela própria máquina pública, reflexo número muito grande de ministérios, segundo ele.

Para o professor, muito além dos cortes no orçamento e do aumento de impostos, o governo precisa economizar na estrutura que o mantém.

O Economista – O PIB de 2014 foi divulgado na sexta-feira, 27 de março, e cresceu ainda menos do que as várias quedas nas previsões oficiais. Ficou em 0,1%. Um resultado baixo assim já era esperado?

Reginaldo Gonçalves – Eu esperava algo como zero, negativo, ou um nível baixo como o que aconteceu. Houve um aperto da situação econômica e, em ano de Copa com eleição, as coisas ficaram um pouco nebulosas. Tanto que se viu que a presidente tentou todas as manobras imagináveis para segurar a inflação abaixo do teto máximo de 6,5%.

E – A análise mais vista em relação à má situação econômica aponta para a indústria e para a falta de investimento. É simples assim?

RG – Lógico que sabemos que a indústria vem perdendo competitividade há pelo menos dois anos. E esta perda de competitividade vem em virtude, primeiro do estrangulamento da situação financeira porque, enquanto o governo vem aumentando os juros através do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] tentando coibir o consumo, automaticamente as indústrias que necessitam dos recursos financeiros acabam tento problemas. Têm de pagar mais caro pelos financiamentos e não conseguem passar isso para o consumidor final. Isso acaba gerando o desestímulo.

A outra situação é a perda da competitividade em virtude do próprio custo-Brasil. O governo deixou de investir em infraestrutura e a falta deste investimento também gera, de certa forma, a perda de competitividade da indústria.

São dois fatores envolvendo diretamente o governo: tanto o aumento da taxa de juros, em virtude do aumento da inflação, como também a falta de investimento em infraestrutura.

E – O senhor acha que a troca da equipe econômica neste mandato da presidente, de Guido Mantega para Joaquim Levy, foi uma decisão acertada?

RG – Já deveriam ter trocado de ministro a partir do momento em que começaram a surgir divergências entre presidência e ministro. Infelizmente o anterior era muito otimista quando, na realidade, o que se via era que a situação não era de otimismo. Então, o próprio mercado já estava questionando a situação econômica e os problemas pelos quais o Brasil estava passando. E o governo sempre vinha culpando o cenário internacional, mas nunca olhando para dentro da própria casa.

E – E as medidas de ajuste fiscal da nova equipe? Estão sendo aplicadas corretamente? São válidas?

RG – Qualquer aumento de impostos é uma situação negativa para indústria e para as outras áreas e atividades em geral, porque as indústrias já vêm pagando uma taxa de imposto muito alta. Vê-se que a representatividade de aproximadamente 35% do PIB com relação aos impostos é muito grande. Então o sacrifício que a indústria, a que mais vem perdendo massa muscular, está tendo é muito significativo e, se aumentar impostos, isso pode aumentar a sonegação fiscal porque muitas empresas já não estão aguentando mais a carga tributária. Então você tem aumentos de financiamento, redução e pressão por pedidos, importação de produtos mais em conta do que se produz no mercado interno. Fica difícil competir de igual pra igual enquanto o governo tenta taxar e tributar mais e querendo acabar com determinados estímulos da indústria. 2015 promete ser um ano bastante complicado.

Infelizmente nós ainda não estamos vendo uma boa sincronia entre ministro e presidente. Ele determina algumas coisas e a presidenta vai lá, analisa, põe pressão e faz voltar atrás. Então não se tem segurança sobre as medidas feitas em relação à economia e aos gastos públicos.

E – O boletim semanal Focus, do Banco Central, feito baseado em pesquisas feitas com o mercado financeiro, projetou ainda no mês passado uma queda de 1% no PIB de 2015 e uma alta de 1,5% no ano seguinte. Você acredita nesta recuperação?

RG – Nós só vamos ter uma garantia de que no ano que vem teremos uma pequena melhoria, se houver, dependendo do cenário que se tem hoje. Porque se você acredita que uma inflação possa passar 8% ao ano, então se imagina que qualquer meta [estabelecida pelo governo] dentro de suas prerrogativas infelizmente não será cumprida e essa situação acaba gerando uma pressão interna bastante grande. Mesmo porque a política do Banco Central é aumentar a taxa Selic e, vai chegar um momento em que não é a taxa de juros que vai resolver qualquer problema. O governo quer impedir de qualquer forma que o dinheiro vá para o mercado e que o dinheiro vá para os bancos para evitar o consumo, mas muitas vezes a inflação não se deve só ao consumo, mas a outras situações como o próprio funcionamento das indústrias e do comércio em geral. Nós vemos o problema no combustível e na própria energia elétrica que vêm aumentando, a pressão do dólar. Tudo isso em virtude de uma série de situações que o próprio governo está provocando.

E – Acha que o principal erro agora é o desequilíbrio na balança entre estímulo e economia? Precisa de mais incentivo?

RG – Minha opinião é a seguinte. Primeiro o governo precisa fazer a própria lição de casa, que é o que não temos visto agora. No mínimo tem que diminuir vários ministérios. Teríamos que ter no máximo 20 ministérios e não 39.

O governo já fala em cortar, mas não no que fazer com quem está dentro deles. Alguns falam que vão passar para estados e municípios, mas assim [o governo] vai trocar as peças de lugar. Isso não é reduzir gasto público.

Corte de gasto público é efetivamente mostrar que se está diminuindo ministérios, fazendo a lição de casa e aí sim vamos ver como a economia pode se equilibrar. Porque não adianta receber R$ 10 de tributo, gastar R$ 50 com gasto público e querer que os outros paguem R$ 40 da fonte. Se o limite é dez, não pode ultrapassar o limite de dez e, infelizmente, isso o governo ainda não fez. Mantém o funcionalismo público pesado, não corta e ainda, além disso, temos os escândalos envolvendo construtoras, Petrobras etc. Tudo isso faz com que o país pare e tudo vire uma cortina de fumaça, mas essa cortina não está prejudicando um segmento só. Está prejudicando a todos. Inclusive a população.

Vê-se que até no Fies o governo está mexendo. Uma legislação que existia e funcionava normalmente até o ano passado e, de repente mudam-se as regras e ninguém consegue financiamento. Inclusive o governo continua mentindo e falando que os financiamentos estão livres e que os alunos podem fazer normalmente. E na realidade nós sabemos que o corte nos financiamentos do Fies é falta de grana. E isso acaba prejudicando outro lado: as escolas, os alunos e um potencial que se tem de, futuramente, gerar novos empreendedores para o país.

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