Jose Augusto Figueiredo
“Acho que o modelo educacional que a gente tem é muito antiquado e faz com que os jovens cheguem ao mercado de trabalho muito egocêntricos, individualistas”

José Augusto Figueiredo é engenheiro mecânico formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Psicologia pela Universidade Santa Úrsula. Também tem pós-graduação em administração de empresas e em Administração. Ele já trabalhou em empresas como White Martins/Prax Air, American Cynamid, American House Products, BASF e atualmente é presidente, coach e consultor da LHH | DBM no Brasil.

Com um currículo destes, parece estranho surgir a ideia para falar de um problema como a indecisão na hora de ingressar em uma carreira. Mas sua ampla experiência no ambiente corporativo fez com que ele percebesse um fenômeno cada vez mais comum nas novas gerações de profissionais.

My Job, Doce Ilusão acompanha a trajetória de quatro jovens que vivenciam as mazelas do mundo do trabalho. Por meio da história contada no livro, Figueiredo trata de diversos temas relacionados à competitividade do mercado de trabalho e às decisões que cada um deve tomar.

O Economista – Você chegou a enfrentar as dificuldades relatadas no livro quando saiu da faculdade?

José Augusto Figueiredo – No meu caso não, porque não dava pra ficar muito perdido. Tinha que agarrar o que aparecia. E eu tava muito focado no que eu queria naquela época. Não tive o mesmo dilema que eles, não.

E – De onde surgiu a ideia para o livro?

J.A.F – Foi de uma observação que eu vinha fazendo. Eu estava percebendo nas organizações e empresas o sofrimento e a preocupação que os líderes e os setores de Recursos Humanos têm em como gerenciar jovens. A preocupação de fazer a gestão adequada desses jovens, que são aparentemente inquietos, chamados de geração Y. Comecei a observá-los e percebi que eles, os próprios jovens, sofrem muito com a loucura das organizações baseadas nessas dinâmicas clássicas de prazos curtos e um monte de paradoxos.

E – A história contada no livro é uma ficção, uma parábola contada pelo ponto de vista dos jovens. Por que o senhor decidiu contá-la desta maneira?

J.A.F – Esse foi o ponto que eu mais demorei para encontrar, porque eu não queria fazer um livro técnico. Eu queria fazer um livro que fosse, primeiro, de fácil leitura. Segundo, acessível ao jovem. E não queria ficar fazendo afirmações de que as coisas simplesmente são assim ou assado. Então a forma de romancear e de construir uma história de pano de fundo foi a forma que eu encontrei de ter uma imagem diferente.

E – Qual o elemento responsável por esse problema apontado no livro, na sua opinião? O excesso de opções, a mudança do mercado ou está mais relacionado à geração?

J.A.F – Eu acho que é uma conjunção de fatores. Primeiro existe o fato de você ter muitas opções hoje no mercado de trabalho, o que cria um problema. Apesar de hoje vivermos uma crise, quando eu escrevi o livro, em 2012, o mercado estava bem aquecido, então existiam muitas dúvidas sobre o que escolher no mercado de trabalho. Este, porém, é apenas um dos fatores.

O principal deles eu acho que é o modelo de educação que a gente tem, que faz com que você seja muito individualista. Durante toda a sua vida escolar, da alfabetização até a faculdade, você sempre é avaliado de forma diferencial e individual, se torna competitivo para poder sobreviver e hoje o mundo está muito mais voltado para a cooperação do que para competição. O que importa é muito mais time do que individualidade. Acho que o modelo educacional que a gente tem é muito antiquado e faz com que os jovens cheguem ao mercado de trabalho muito egocêntricos, individualistas e pensando no que querem e no que não querem em vez de pensar como podem contribuir para uma empresa. Entram numa organização competindo em vez de cooperar.

Esse sofrimento ocorre porque, quando ele entra no mercado, ele é fruto, de certa forma, de um modelo educacional que a gente tem. A gente, hoje, continua tendo um modelo de educação em que você é avaliado por uma prova, na maioria das vezes, e você não pode colar nessa prova. Você precisa saber por você mesmo e acertar o máximo possível e, quando se chega a um ambiente empresarial, o maior desafio que se tem a fazer é colar. A organização espera que você trabalhe em equipe e que possa trocar com as pessoas o que você sabe, você pode errar e aprender com os erros. Então a gente percebe que o modelo é totalmente incompatível com a necessidade atual que a gente tem de mundo. Hoje o mais importante para as empresas é que você seja capaz de colar com seus colegas.

Foi criada até a disciplina gestão do conhecimento, onde você aprende a compartilhar os conhecimentos e o nosso modelo educacional é totalmente avesso a isso. [Neste modelo] o que eu sei mais que você é meu diferencial e eu posso vencer e você não, porque eu sei mais.

E – A falta de colaboração é o que mais atrapalha?

J.A.F – São três coisas, basicamente. Primeiro uma oferta muito grande de possibilidades, inclusive de empreendedorismo; [segundo] o modelo educacional, que nos transforma em individualistas competitivos; e o terceiro é o autoconhecimento. As pessoas não são forçadas em nenhum momento da formação a olhar para si mesmo pelo ponto de vista de comportamento. “Uma autoavaliação dos meus valores, das minhas crenças…” e tudo isso que move o comportamento. Este é um outro fator que cria problemas na horas de escolher o primeiro passo.

E – E o livro trata especificamente disso também?

J.A.F – Eu acho que essa seria a essência do livro, o autoconhecimento.

E – Se você fosse dar uma resposta rápida como solução, seria mudar essa maneira de educar as pessoas para que no futuro esse tipo de coisa não aconteça?

J.A.F – Já está mudando, né? Existem vários tipos de projeto no país, inclusive alguns já homologados pelo MEC [Ministério de Educação], por exemplo, no Rio. Tem um projeto na comunidade da Rocinha, onde se tem uma sala de aula com vários computadores postos de forma circular e o aluno da quarta ou da quinta série senta junto com o aluno da oitava, no mesmo ambiente. Pode ser da sétima, da sexta série, todo mundo junto. Não tem um professor pra cada matéria, tem um facilitador que auxilia as matérias e todo o conteúdo programático, o aluno aprende através do terminal. São coisas muito mais atraentes. Mas o interessante é você ver o aluno de sexta sentado do lado do de oitava e um ajudando o outro.

Você quebra o padrão de hierarquização e atiça o menor a querer aprender o que o mais velho tá fazendo e o mais velho sente-se reconhecido e ajuda os mais jovens. Então você quebra todos os modelos. Porque o nosso modelo de hierarquização vem lá do século 13, né? O cara sobe no tablado, mais alto que você, e supostamente sabe mais do que você e diz se você está errado. É um modo muito antigo.

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