Consumo consciente

O texto de hoje da nossa série de educação financeira será um pouco diferente. Seguiremos falando da necessidade de planejar e equilibrar as finanças pessoais, é claro, mas agora com um objetivo mais amplo: ajudar a cuidar dos recursos naturais disponíveis no planeta, afinal, já somos sete bilhões de pessoas vivendo aqui. Para isso, vamos trabalhar o conceito de consumo consciente e tudo que gira em volta dele.

E antes que você comece a reclamar e a dizer que “lá vem O Economista com esse papo de ecochato”, já queremos esclarecer que não se trata disso. A nossa preocupação continua sendo ensinar a usar o dinheiro com responsabilidade, buscando sempre o melhor custo-benefício. Porém, você precisa entender que a sua maneira de consumir impacta o meio ambiente e que, quanto menos recursos naturais disponíveis, mais caras ficam as matérias-primas e, consequentemente os produtos que você precisa comprar. É a lei da oferta e da procura.

Ao ser responsável na hora de gastar, você consegue ter benefícios pessoais, mas também ajuda a trazer vantagens sociais, ambientais e econômicas para todos. Com isso, o consumo consciente amplia o conceito de educação financeira ao incorporar às nossas escolhas de consumo considerações sociais e ambientais, tais como modo de produção, quantidade e qualidade das matérias-primas, qualidade de mão de obra, produção de resíduos e outros aspectos relevantes para o meio ambiente e para a sociedade.

Quais são as características de um consumo consciente?

De forma resumida, podemos dizer que ao consumir levando em conta as consequências desse consumo para os habitantes do planeta, uma pessoa está fazendo um consumo consciente, também chamado de consumo sustentável. Sendo assim, ele é caracterizado por quatro dimensões. São elas:

  1. Consciência ecológica: Aparece no momento da aquisição de um bem, indicando a preferência por produtos, serviços e empresas ecologicamente corretos. Essa dimensão é apoiada por atitudes que mobilizam a sociedade em relação aos cuidados com o meio ambiente e a prática do consumo sustentável.
  2. Economia de recursos: É a fase do uso do item adquirido, tendo como destaque a racionalização ou a redução do desperdício de recursos, como água e energia elétrica. Nesta fase também existe a busca por uma maior utilização dos meios alternativos de transporte, como bicicleta e transporte coletivo no lugar do carro.
  3. Reciclagem: É a etapa de descarte do bem adquirido com práticas que permitam a reutilização e o reaproveitamento de materiais, como a separação dos produtos descartados para reaproveitamento. Essa fase lembra os cuidados com o meio ambiente no fim do ciclo de vida dos produtos, referindo-se ao comportamento ambiental.
  4. Planejamento do consumo: Refere-se à compra de produtos usados e à preocupação em reutilizá-los sempre que for possível. Este planejamento do ato de quanto, como e por que consumir representa a propensão a um estilo de vida mais simples, menos consumista, que gera menos impactos negativos ao meio ambiente e, desta forma, otimiza-se o uso racional de recursos.

Consumir de maneira consciente contribui para a sustentabilidade ambiental, social e econômica, ou seja, ao adquirir produtos e serviços ambientalmente corretos, você ajuda a construir uma sociedade mais justa e ainda consegue manter uma situação financeira estável. E esse consumo pode ir desde produtos orgânicos da agricultura familiar até aqueles feitos com materiais recicláveis, como roupas e móveis.

Porém, entendemos que é difícil mudar alguns hábitos e resistir a tudo que o mercado nos oferece. Sabemos bem que vivemos em uma sociedade de consumo, em que o ter acaba valendo muito mais que o ser. Como resistir aos lançamentos quase semestrais dos novos celulares, não é mesmo? E às coleções de roupas que mudam a cada estação? Por que mandar arrumar um eletrodoméstico se posso comprar um novo quase pelo mesmo preço?

Estratégias de obsolescência de produtos na sociedade

A resposta para essas perguntas têm nome: obsolescência. Não é um nome bonito, mas faz o maior sucesso mesmo você não vendo essa palavra estampada em outdoors por aí. A obsolescência é definida pela aplicação de técnicas que limitam artificialmente a durabilidade de produtos com o objetivo de estimular o consumo repetitivo. Existem três estratégias principais para que ela ocorra:

1 – Obsolescência programada

Refere-se à interrupção ou à redução da vida útil de um produto de maneira intencional, praticamente obrigando o consumidor a descartar o que está defeituoso e comprar outro. Esse conceito nasceu durante a Grande Depressão nos Estados Unidos, entre os anos de 1929 e 1930. Ele tinha o objetivo de incentivar um modelo de mercado baseado na produção em série e no consumo para recuperar a economia dos países naquele período.

Aqui no Brasil, a obsolescência programada chegou um pouco mais tarde. Conseguimos observá-la melhor a partir da redemocratização do país, no fim da década de 1980, quando mais empresas se estabeleceram aqui e as importações ganharam força. O aumento da competitividade e um número maior de opções fez com que as pessoas começassem a trocar os produtos danificados por novos ao invés de mandá-los arrumar, como era feito antes.

Temos certeza de que você já deve ter ouvido frases como: na minha época, um fogão durava a vida toda; a geladeira da sua avó foi a mesma por 40 anos; fiquei com o mesmo carro por mais de 15 anos e nunca me deixou na mão. Atualmente, é raro alguém arrumar um eletrodoméstico ou ficar tantos anos com o mesmo carro. Primeiro porque, muitas vezes, é mais caro consertar do que comprar um novo. Segundo porque o produto foi feito para estragar mesmo.

2 – Obsolescência perceptiva

É a prática que nos induz a descartar um produto que está funcionando perfeitamente pelo simples fato de ser considerado obsoleto, quando na verdade ele ainda é muito útil. Isso acontece porque a aparência das coisas muda, os objetos ganham novas funções e a publicidade está em todos os lugares.

Um exemplo clássico aqui é o smartphone. Quase todo mundo usa um desses para fazer e receber ligações, usar as redes sociais, fazer fotos pessoais e dar um google quando precisa encontrar algo mais rápido. Pouquíssimas pessoas fazem de seus aparelhos instrumentos de trabalho ou usam todas as funcionalidades “incríveis” que eles têm. Então, por que cargas d’água as pessoas precisam trocar de celular sempre que um novo é lançado se o delas está em perfeito estado?

A obsolescência percebida, mais do que a programada, é a mais prejudicial de todas, pois faz com que nós praticamente joguemos fora algo que está bom e é totalmente usável. E olha que não estamos falando apenas do prejuízo no seu bolso, que precisa estar sempre cheio para atender ao chamado da última novidade ou do lançamento imperdível.

O meio ambiente paga muito por isso. Além de toda matéria-prima gasta para fazer um produto novo, ainda há o gasto com o descarte. A geração de lixo é uma dos principais problemas que todos nós já enfrentamos hoje. E não é somente do plástico, um dos vilões do atualidade, que estamos falando. O lixo eletrônico, do qual o Brasil é um dos três países mais produtores, possui substâncias altamente poluentes e tóxicas para as pessoas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), das 2,5 milhões de toneladas de chumbo geradas anualmente em todo o mundo, três quartos vão para a produção de baterias, que são usadas em carros, smartphones, computadores e na indústria. Por isso, quando você estiver planejando trocar algum equipamento, pense em números desse tipo e analise se é realmente a hora de trocá-lo.

3 – Obsolescência de função

Ela ocorre quando um produto que está funcionando e cumprindo a função para o qual foi projetado é substituído por um novo, com tecnologia mais avançada. Esse tipo de obsolescência acontece quando há a introdução de um produto genuinamente aperfeiçoado no mercado. Essa é considerada a estratégia menos danosa, pois faz parte da natureza do desenvolvimento tecnológico.

Porém, é importante não usá-la como uma desculpa. Hoje, por exemplo, são lançados novos eletrodomésticos a todo momento. É o liquidificador que faz sucos e vitaminas maravilhosas, a batedeira que vai deixar o seu bolo incrível, a panela que vai fazer você virar um chef de cozinha. Não se engane, nada disso vai fazer diferença se você não souber cozinhar de verdade. Para quem tem a mão boa, o bolo fica fofo e gostoso até batido à mão.

Pense muito na hora de trocar um produto que ainda é funcional por um novo. Só o faça se realmente for necessário. É como já falamos em vários textos aqui no blog, é preciso colocar na balança o que eu preciso do que eu desejo. Se a panela que você usa diariamente já está ruim e não cumpre mais suas funções, não há problema em comprar uma nova, mais moderna e que ainda é benéfica à saúde.

Agora, se você usa o celular apenas para as coisas corriqueiras do dia a dia, não faz sentido algum trocar o que você comprou ano passado pelo modelo desse ano só porque a tela tem uma polegada a mais ou a câmera frontal faz fotos com um 0.2 pixel a mais. Você vai estar jogando dinheiro fora, poluindo o meio ambiente e incentivando uma concorrência por status (o ter mais que o ser) que é desnecessária.

Os 12 princípios do consumo consciente

Bom, como já falamos antes, não é fácil mudar hábitos de consumo, pois eles são individuais e dependem da vontade de cada um. Para que um cidadão comece a praticá-lo, ele precisa entender a importância desse ato e quais impactos vai trazer para sua vida pessoal, para a sociedade e para o meio ambiente.

Muitas pessoas não fazem nada porque acreditam que sozinhas não fazem diferença, mas toda transformação para ser grande precisa começar pequena, com cada um de nós. Para incentivar esse primeiro passo no caminho da mudança, o Akatu, ONG que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade e pela transição para estilos sustentáveis de vida, elaborou os 12 princípios do consumo consciente. São eles:

  1. Planeje suas compras: Não seja impulsivo. A impulsividade é inimiga do consumo consciente. Planeje antecipadamente e, com isso, compre menos e melhor.
  2. Avalie os impactos de seu consumo: Leve em consideração o meio ambiente e a sociedade em suas escolhas de consumo.
  3. Consuma apenas o necessário: Reflita sobre suas reais necessidade e procure viver com menos.
  4. Reutilize produtos e embalagens: Não compre outra vez o que pode consertar, transformar e reutilizar.
  5. Separe seu lixo: Recicle e contribua para a economia de recursos naturais, a redução da degradação ambiental e a geração de empregos.
  6. Use crédito conscientemente: Pense bem se o que você vai comprar a crédito não pode esperar e esteja certo de que poderá pagar as prestações.
  7. Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social das empresas: Em suas escolhas de consumo, não olhe apenas preço e qualidade do produto. Valorize as empresas em função de sua responsabilidade para com os funcionários, a sociedade e o meio ambiente.
  8. Não compre produtos piratas ou contrabandeados: Compre sempre do comércio legalizado e, dessa forma, contribua para gerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência.
  9. Contribua para a melhoria de produtos e serviços: Adote uma postura ativa. Envie às empresas sugestões e críticas construtivas sobre seus produtos e serviços.
  10. Divulgue o consumo consciente: Seja um militante da causa. Sensibilize outros consumidores e dissemine informações, valores e práticas de consumo consciente. Monte grupos para mobilizar seus familiares, amigos e pessoas mais próximas.
  11. Cobre dos políticos: Exija de partidos, candidatos e governantes propostas e ações que viabilizem e aprofundem a prática de consumo consciente.
  12. Reflita sobre seus valores: Avalie constantemente os princípios que guiam suas escolhas e seu hábitos de consumo.

Esperamos que você tenha gostado do nosso texto de hoje e tenha entendido que praticar o consumo consciente é bom para todo mundo hoje, amanhã e daqui a 100 anos. Conta pra gente ali nos comentários o que você está fazendo para ser um consumidor consciente ou como pretende começar a trilhar esse caminho. O seu bolso agradece e a natureza também!

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